Por Marcelo Teixeira e Maytaal Angel
NOVA YORK (Reuters) - A chuva começou a cair nas regiões de cultivo de café do Brasil, o maior produtor mundial, depois de um dos períodos mais secos já registrados na história, mas pode ser tarde demais para que as árvores se recuperem totalmente antes da colheita da nova safra, afirmam agricultores e especialistas.
Os preços do café atingiram repetidamente máximas de vários anos nos últimos dois anos, elevando o custo aos consumidores em todo o mundo e forçando algumas torrefadoras a mudar as misturas e reduzir a qualidade do café que vendem.
Os problemas de produção no Brasil e na Ásia devido às condições climáticas adversas fizeram com que a oferta ficasse aquém da demanda por três anos. Se a próxima safra no Brasil ficar abaixo do potencial, a oferta global poderá ficar novamente abaixo da demanda.
"A próxima safra não será grande, já podemos esperar perdas", disse Alysson Fagundes, agrônomo da instituição de pesquisa de café Fundação Procafé, em Minas Gerais, o principal Estado produtor de café do Brasil.
Agricultores e agrônomos no Brasil dizem que a safra de 2025 será problemática, mesmo que as chuvas resultem em boa floração nas próximas semanas.
A Procafé reúne dados sobre o estado dos campos de café em Minas Gerais. A instituição informou que, no final de setembro, os solos da região sul do Estado -- a principal área cafeeira do país -- estavam com déficit de 250 milímetros de água em comparação com os níveis ideais. Esse foi o segundo maior déficit de umidade já registrado.
De acordo com os agrônomos, os cafezais que sofreram com a seca teriam que usar energia -- assim que as chuvas retornassem -- para produzir folhas, em vez de frutos. Isso significa que a chance de uma boa carga de frutos após a floração é pequena.
"As árvores perderam muitas folhas", disse Jonas Ferraresso, agrônomo que presta consultoria a fazendas de café em Minas Gerais e São Paulo.
"Elas dificilmente terão energia suficiente para desenvolver frutos após a floração."
Muitos agricultores do Estado de São Paulo optaram por podar as árvores, porque elas estavam em condições muito ruins, disse o cafeicultor Osmar Junior à Reuters.
Os agricultores usam a técnica para estimular a recuperação da planta, mas isso significa que as árvores não produzirão grãos no primeiro ano após a poda, voltando a produzir somente em 2026, disse o agricultor.
"As plantações estão na unidade de terapia intensiva", disse Junior. "Antes de começarem a produzir, elas precisam primeiro receber alta do hospital."
FALHA NA IRRIGAÇÃO
A seca histórica no Brasil prejudicou até mesmo os agricultores que usam sistemas de irrigação, já que muitos cursos d'água secaram.
"Eu tenho irrigação, mas não tenho água", disse o produtor Mario Alvarenga, que possui duas fazendas na região do Cerrado Mineiro.
Seu sistema não conseguiu coletar água de um córrego próximo.
"Em alguns dias, eu conseguia usar a irrigação por algumas horas... depois ela parava de funcionar completamente."
Alvarenga disse que produziu 10% menos em 2024 e estima uma queda semelhante na produção para 2025.
Se a precipitação retornar aos níveis médios daqui para frente, as árvores se recuperarão, disseram alguns traders.
"A maioria das pessoas reduziu suas previsões de safra para o próximo ano, mas não muito", disse um trader de café europeu. "De acordo com todos os relatos, ainda será uma safra bastante decente", acrescentou, embora ele ainda espere que a oferta fique abaixo da demanda no próximo ano.
Os cafezais são resistentes e podem se recuperar se o clima for propício, disse outro analista europeu que trabalha para uma grande trading.
"As árvores parecem ruins, então é possível fazer algumas suposições. Mas elas podem se recuperar", disse ele.
(Reportagem de Marcelo Teixeira em Nova York e Maytaal Angel em Londres)