Anec vê queda mensal na exportação de soja do Brasil em ano de embarques alongados

Publicado 07.05.2025, 10:20
Atualizado 07.05.2025, 14:37
© Reuters. Vista de navio sendo carregado com soja em Paranaguán27/01/2025nREUTERS/Rodolfo Buhrer

Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A exportação de soja do Brasil pode cair em maio para 12,6 milhões de toneladas, estimou nesta quarta-feira a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), apesar de o país ter acabado de colher uma safra recorde e de a China estar importando mais em meio à guerra comercial com os Estados Unidos.

A projeção atual de exportação da Anec para maio, que ainda poderá ser revisada, indica uma redução anual e em relação ao mês anterior, sendo inferior em cerca de 900 mil toneladas em ambas as comparações. Maio geralmente registra grandes embarques de soja do Brasil e o país colheu em torno de 170 milhões de toneladas na temporada, volume jamais visto no maior produtor e exportador mundial da oleaginosa.

Se uma exportação mensal de 12,6 milhões de toneladas pode ser relativamente mais "fraca", ela ocorre após a China acumular grandes estoques enquanto se preparava para enfrentar a guerra comercial com os EUA.

Além disso, disse a analista da AgRural, Daniele Siqueira, muitos participantes do mercado estão optando por uma campanha de exportação mais alongada no ano, para reduzir custos logísticos durante o pico de escoamento.

A Anec também apontou que os embarques de abril, que somaram 13,5 milhões de toneladas, ficaram praticamente estáveis ante o mesmo mês do ano passado.

A projeção para maio, contudo, deve aumentar ao longo do mês, à medida que novos navios possam ser incorporados à programação, disse a Anec.

"Ainda estamos no início de maio e o ’line-up’ não está formado por completo. Esperamos que esse número fique maior ao longo do mês", disse a Anec, ao ser questionada.

De janeiro a abril, a China foi destino de 75% da soja exportada pelo Brasil, alta de dois pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado. Isto mostra que os chineses estão privilegiando o produto brasileiro, já que o norte-americano enfrenta tarifas elevadas.

A estabilidade nos embarques em abril e a queda ora esperada para maio acontecem após um volume recorde de exportações do Brasil em março, de quase 16 milhões de toneladas, segundo números da Anec.

No acumulado do ano até abril, Brasil já embarcou 1 milhão de toneladas a mais do que no mesmo período de 2024, ou cerca de 40 milhões de toneladas, com a China importando 30 milhões de toneladas. Isto se compara a cerca de 28 milhões de toneladas de soja destinada ao mercado chinês no primeiro quadrimestre do passado, conforme dados da Anec.

CHINA E EMBARQUES ALONGADOS

Para a analista da AgRural, os embarques de março e abril foram feitos em grande parte com soja comercializada antecipadamente, antes da safra ficar pronta, "e é natural que sejam dois meses fortes mesmo, especialmente em ano com atraso na colheita, como foi o caso de 2025".

Questionada sobre a indicação inicial de queda nos embarques em maio, a analista observou que, com a colheita já em curso nos dois primeiros meses do ano, a comercialização havia perdido força, no período, devido a fretes internos mais caros.

"Tudo isso pode ter tido um papel nessa possível perda de força dos embarques em maio", explicou.

Mas, segundo a analista, a comercialização voltou a ganhar "fôlego" em março e abril, "com a alta dos preços em plena boca de safra".

Segundo ela, boa parte da soja comercializada desde março deve ser embarcada mais adiante, com participantes do mercado buscando também fugir da "muvuca" logística dos meses de pico da exportações. Ademais, os preços para entrega de soja mais adiante estão mais interessantes para o produtor.

"Por isso, é possível mesmo que tenhamos um mês de maio relativamente ’fraco’, se que é que se pode usar esse termo", disse Siqueira. Depois disso, os embarques devem ficar acima da média nos meses seguintes.

"A China tem necessidade de comprar do Brasil, claro, e comprou muita coisa de março para cá para embarque em maio, junho e um pouco para julho também. Mas na atual guerra comercial a situação chinesa é mais tranquila que na de 2018", disse a analista, explicando que o país asiático tem estoques mais altos e sabe que a produção do Brasil é maior.

Além disso, "ainda há um certo tempo até a entrada da nova safra dos EUA, tempo esse que pode ser usado para negociações entre americanos e chineses", observou. A colheita dos EUA só começa mais adiante no segundo semestre.

"Então, por mais que exista a necessidade de compra por parte da China, eles não precisam vir com tanta sede ao pote", destacou, adicionando que o produto brasileiro continuará sendo embarcado para a China e para outros destinos em volumes acima do usual no começo do segundo semestre, com o fluxo logístico mais alongado no ano, em vez de ser concentrado no primeiro semestre.

Mantendo-se a guerra comercial entre China e EUA, caso não seja feito um acordo, as exportações brasileiras também devem ser relevantes no último trimestre, já no período tradicional de embarques norte-americanos, adicionou Siqueira.

Ela lembrou também que, com os sucessivos aumentos da safra brasileira, o alongamento do escoamento tem sido uma tendência nos últimos anos. As projeções da Anec para todo o ano de 2025 indicam um potencial de exportação recorde de até 110 milhões de toneladas, contra 97,3 milhões em 2024.

(Por Roberto Samora)

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