Apesar de acordo da COP28 sobre combustíveis fósseis, meta de 1,5°C deve ficar fora de alcance

Publicado 14.12.2023, 12:34
Atualizado 14.12.2023, 12:35
© Reuters. Bombeiros combatem incêndio florestal na Amazônia boliviana, em San Buenaventura, Bolívia
22/11/2023
REUTERS/Claudia Morales

Por Gloria Dickie

DUBAI (Reuters) - Um acordo para que o mundo abandone gradualmente os combustíveis fósseis foi aclamado como uma conquista histórica na quarta-feira na cúpula climática da ONU em Dubai, mas há uma boa chance de que ele não atinja seu objetivo principal -- manter o aquecimento global em 1,5 grau Celsius.

Durante meses, o presidente da COP28, Sultan al-Jaber, descreveu esse limite de 1,5°C -- declarado pela primeira vez no Acordo de Paris de 2015 -- como sua "Estrela Norte" ou princípio orientador da cúpula.

Os cientistas afirmam que um aumento da temperatura global superior a 1,5ºC acima da média pré-industrial provocará impactos catastróficos e irreversíveis, desde o derretimento das camadas de gelo até o colapso das correntes oceânicas.

Porém, ano após ano, essa meta se distancia cada vez mais, com as emissões mundiais de gases que aquecem o planeta ainda aumentando e as temperaturas atingindo novos patamares de alta.

Este ano será o mais quente já registrado, e a média global para 2023 será de 1,46ºC acima dos níveis pré-industriais.

Em termos de aquecimento global, que é medido em termos de décadas, o mundo já tem experimentado um aquecimento de quase 1,2ºC.

O acordo feito em Dubai, chamado de Consenso dos Emirados Árabes Unidos, prevê que o mundo se comprometa a abandonar os "combustíveis fósseis nos sistemas de energia, de maneira justa, ordenada e equitativa... de modo a atingir zero líquido até 2050, de acordo com a ciência".

Mas os cientistas disseram que, embora o pacto seja sem precedentes, ainda não é suficiente para que esse resultado seja alcançado.

"É um resultado marcante porque é a primeira vez que dizemos que vamos reduzir o uso de combustíveis fósseis", disse James Dyke, cientista de sistemas terrestres da Universidade de Exeter, no Reino Unido. "Mas você pode esquecer o 1,5ºC."

MUITO POUCO, MUITO TARDE

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, principal órgão científico que orienta a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, afirmou que para limitar o aquecimento a 1,5°C sem ultrapassagem ou com ultrapassagem limitada seria necessário reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa.

Especificamente, o mundo precisa reduzir suas emissões em relação aos níveis de 2019 em até 43% nos próximos seis anos, 60% até 2035 e chegar a zero líquido até 2050 para evitar impactos agravados, como o descongelamento do permafrost, que libera gases de efeito estufa há muito tempo retidos, desencadeando um aquecimento ainda maior.

O IPCC se recusou a comentar o resultado da COP28.

O mundo registrou um recorde de emissões de gases de efeito estufa em 2022, aumentando 1,2% em relação a 2021, de acordo com o Relatório sobre a Lacuna de Emissões da ONU de 2023.

O Consenso dos Emirados Árabes Unidos não cria um compromisso para que o mundo elimine gradualmente o petróleo e o gás, nem estabelece cronogramas de curto prazo para a transição dos combustíveis fósseis.

"É como prometer ao seu médico que você vai 'deixar de comer donuts' depois de ser diagnosticado com diabetes", disse o cientista climático Michael Mann, da Universidade da Pensilvânia.

Para que os países tenham 50% de chance de limitar o aquecimento a 1,5ºC, eles podem emitir apenas mais 250 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono. Com os níveis atuais de emissões, isso será alcançado em apenas seis anos, de acordo com um estudo de outubro de 2023 publicado na revista Nature Climate Change.

"Esse mandato ainda não está nem perto do que é necessário para atingir as metas que acordamos em Paris em 2015", disse a cientista climática Katharine Hayhoe, da Texas Tech University.

Isso se aplica aos países desenvolvidos de alta emissão que também não se comprometeram a dar maior apoio aos países em desenvolvimento na transição energética, afirmou ela.

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