Representantes do agronegócio baiano consideram ser necessária a adoção de medidas de apoio à comercialização de grãos pelo governo federal em meio ao recuo expressivo dos preços das commodities. "A hora é essa. Hoje, o que está acontecendo em Mato Grosso (milho comercializado abaixo do custo de produção) já começa a acontecer aqui, que ainda se vendeu boa parte da safra de R$ 50 a R$ 60 por saca, o que cobriu custos. Mas o preço continua caindo e ninguém sabe até onde é o fundo", disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Humberto Miranda, ao Broadcast Agro nos bastidores da Bahia Farm Show.
"Está na hora de o governo entrar com essa compra de regulação de mercado para ver se estanca esse ponto e não causar prejuízo maior a muitos produtores que estão vendendo grão sem fechar as contas de custo", acrescentou.
A visão é compartilhada pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado da Bahia (Aprosoja-BA). "Isso é necessário já neste momento. Hoje, principalmente em milho, se o governo não ativar a política de nos pagar a diferença entre o praticado e o preço mínimo, a cultura será praticamente extinta porque não há margem de rentabilidade - hoje já está negativa. Se isso ocorrer, o produtor não planta, o frango não come, o porco não come e aí começa uma sucessão de cadeias que vão se desmanchando, afirmou o presidente da Aprosoja-BA, Leandro Köhn. "É fato que o governo tem de agir neste momento. O agro precisa disso. O agro sustenta a indústria que sustenta o País", defendeu.
De acordo com Miranda da Faeb, produtores que colheram milho antecipadamente conseguiram vender o grão a patamares que ainda cobriram os custos de produção, mas no momento a comercialização do grão está praticamente travada com a queda dos preços. "Estimo que neste período mais de 60% da safra de milho deveria estar comercializada, enquanto calculamos que nem metade da safra está comercializada. Esse movimento é o produtor buscando segurar o grão para ver se o mercado reage, mas ocorreu o contrário e ele perdeu um preço melhor", explicou o presidente da Faeb. Köhn, da Aprosoja, calcula que o custo da safra 2022/23 na região tenha sido de R$ 47 por saca, enquanto o valor praticado na região gira em torno de R$ 46 por saca.
O cenário é semelhante no caso da soja, segundo Miranda, com preços abaixo da média histórica e vendas travadas. "Quem conseguiu vender um pouco mais cedo se beneficiou com preço superior, mas aquele produtor que segurou a soja, que também houve um retardo na venda da soja em relação aos anos anteriores, acabou tendo prejuízo. A soja não está remunerando (adequadamente) hoje, com valores já abaixo do custo de produção, o que dificulta a situação do produtor rural", comentou. "O cenário para preços futuros ainda é muito nebuloso com questões internacionais, inflação em países importantes, interferência da guerra ainda em mercados importantes, relação do Brasil com novo governo de abrir relações para abrir novos mercados ainda não ocorreu de forma eficiente. Esperamos que o mercado reaja e que tenhamos preços melhores na safra 2023/24", acrescentou.
O apelo do setor produtivo foi externado por algumas lideranças em reunião ontem na feira com o assessor especial do ministro da Agricultura Carlos Fávaro, Carlos Ernesto Augustin. "Conversamos sobre a questão do trigo irrigado com Augustin, do qual temos uma área plantada bem representativa na região. Hoje temos uma perspectiva no mercado futuro de contrato na ordem de R$ 89 por saca, abaixo do custo de produção. A conta não fecha e estamos trabalhando no negativo. O preço mínimo da saca de trigo hoje aqui no oeste da Bahia pela tabela da Conab com ph acima de 78 é R$ 100,43", detalhou Köhn. "É necessário que o preço mínimo seja garantido para a sobrevivência desta cultura, da margem de rentabilidade do irrigante e do trigo como possibilidade de cultivo de segunda safra", apontou
Presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais da Bahia (Cooperfarms), Marcelino Kuhnen relatou que a cooperativa doou uma área para a Conab construir um armazém para estoque regulador de milho na região. "Será necessário este governo apoiar a comercialização e equalizar preços. O cenário mudou totalmente do ano passado para cá. A falta de armazém geral aqui prejudica essas políticas porque depende de credenciamento de armazém", relatou. Para Kuhnen, o governo terá de elevar os recursos destinados à comercialização no Plano Safra 2023/24 ante o R$ 1,3 bilhão liberado na temporada anterior.