Bruxelas, 21 mar (EFE).- A Comissão Europeia (CE) reprovou nesta terça-feira o Brasil por ter tomado conhecimento do escândalo da carne "pela imprensa" e disse ser "inaceitável" não receber uma notificação oficial do caso por parte das autoridades brasileiras, além de pedir novos esclarecimentos sobre o caso.
"É inaceitável nos inteirarmos disto pela imprensa", declarou o diretor-geral do Serviço Alimentar e Veterinário, Michael Scannell, durante um debate sobre acordos comerciais na comissão de Agricultura do parlamento Europeu.
Scannell expressou sua "preocupação ao ver tanta corrupção" nos serviços de controle do Brasil e considerou que "estas atividades deveriam ter sido detectadas muito antes".
O caso, que afeta 21 produtoras de carne e pelo qual foram suspensos 33 funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e 20 diretores de empresas, pôs sob suspeita os sistemas de controle de segurança alimentar do Brasil, com quem a União Europeia negocia atualmente o acordo comercial do Mercosul.
Ao saber do escândalo, a CE iniciou contatos com o Brasil e pediu "esclarecimentos" de maneira imediata, além da suspensão da exportação de produtos das empresas envolvidas, embora não tenha falado em bloquear a entrada dos produtos brasileiros, decisão que o Chile já tomou de maneira "temporária".
O Brasil já confirmou ontem a Bruxelas que suspenderia esses intercâmbios, que no caso da UE afetam quatro empresas com licença para exportar para território comunitário, embora a CE tenha pedido "novos esclarecimentos".
"Vimos uma resposta rápida a nossas preocupações, mas estas garantias não nos pareceram suficientemente satisfatórias e de novo pedimos ao Brasil mais esclarecimentos", explicou Scannell aos eurodeputados.
A CE pediu também que os Estados-membros intensifiquem os controles "para ter mais garantias sobre todas as exportações brasileiras em geral", disse o responsável do Serviço Alimentar.
"Se há um problema sistêmico no Brasil, é preciso reforçar os controles e tomar as medidas pertinentes", ressaltou o representante do Executivo comunitário.
O comissário encarregado da direção-geral de Saúde e segurança dos alimentos, Vytenis Andriukaitis, viajará ao Brasil na próxima segunda-feira para se reunir com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, informaram à Agencia Efe fontes comunitárias.
Outros parlamentares pediram que o caso seja levado em conta nas negociações do acordo comercial com Mercosul.
"É indispensável que a CE nos garanta que as mesmas e regras e os mesmo padrões serão seguidos pelos países que querem exportar à Europa", afirmou o vice-presidente da comissão parlamentar, Paolo de Castro.
Na última sexta-feira, a Polícia Federal denunciou que várias empresas "maquiavam" com produtos químicos carnes em mal estado que não cumpriam com os requisitos para serem exportadas.
A fraude envolvia desde mudar a data de validade da embalagem dos produtos até injetar água na carne de frango para alterar o peso e utilizar ácido ascórbico para mascarar sua deterioração.
A Polícia Federal informou que do esquema participavam agentes públicos e diretores de empresas, que os subornavam para que aprovassem a manipulação.