Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A safra de soja do Brasil deverá crescer 21,3% em 2022/23, para um recorde 152,35 milhões de toneladas, com uma recuperação nas produtividades após a seca no Sul no ciclo passado e aumento da área plantada, afirmou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quinta-feira.
O primeiro levantamento da estatal para a temporada apontou uma produção acima da expectativa média de 12 analistas e instituições, conforme pesquisa da Reuters divulgada nesta quinta-feira, que indicou 150,62 milhões de toneladas.
A área plantada com soja no Brasil em 2022/23 foi estimada pela Conab em 42,89 milhões de hectares, alta de 3,4% ante 2021/22, uma máxima histórica para o plantio da oleaginosa no maior produtor e exportador global da commodity.
"A semeadura do grão ocorre dentro da janela nos principais Estados produtores e chega a 4,6% da área, com o maior índice registrado no Paraná (9%), seguido de Mato Grosso (8,9%) e de Mato Grosso do Sul (6%)", disse a Conab, ressaltando o bom início com chuvas favoráveis.
Segundo analistas, o avanço de área ante 21/22 é motivado por preços atrativos da soja e margens positivas, mesmo com custos elevados diante de maiores despesas com fertilizantes.
Mais rentável que outras culturas, a soja ganhou espaço do arroz no Rio Grande do Sul, milho primeira safra no Paraná, feijão e pastagens, disse o gerente de Acompanhamento de Safras da Conab, Rafael Fogaça.
"Pecuaristas estão destinando parte de suas propriedades a lavouras de soja. Se eles plantavam 5% da área total, este ano estão aumentando (o total para as lavouras) e confinando animais", disse Fogaça, ao explicar os números em uma transmissão pela internet.
Ele citou também que em Estados de fronteira agrícola há expansão.
Conforme dados da Conab, o Mato Grosso, maior produtor brasileiro de soja, deverá aumentar a área em cerca de 5%, ou 550 mil hectares.
Na fronteira agrícola do Matopiba, o Piauí terá o maior aumento percentual (4,1%), enquanto o Pará está se aproximando de 1 milhão de hectares de soja, com crescimento de 11,7% de uma safra para outra.
EXPORTAÇÕES
A Conab projeta exportações de soja em históricas 95,87 milhões de toneladas, o que representaria um aumento de 22,5% em relação ao projetado para 21/22, quando a oferta foi menor pela quebra de safra.
"Este acréscimo é motivado por uma maior oferta brasileira do grão na safra 2022/23, aliado a uma elevação na demanda mundial e a uma previsão de redução das exportações dos Estados Unidos", disse o superintendente de Estudos de Mercado e Gestão da Oferta da Conab, Allan Silveira, em nota.
A safra de soja deverá responder por quase metade da produção total de grãos e oleaginosas do Brasil, estimada pela Conab em 312,4 milhões de toneladas, alta de 15,3% versus o ciclo passado.
O milho responderá por outra grande parte da produção total, com a estimativa da Conab apontando 126,9 milhões de toneladas do cereal, alta de 12,5% ante 21/22, com o recorde baseado nos maiores volumes da segunda safra, plantada após a colheita de soja.
A área total plantada com milho no Brasil em 2022/23 foi projetada em 22,4 milhões de hectares, alta de 3,8% ante 2021/22, com a Conab vendo aumento de 5,4% na área plantada com milho segunda safra, mas queda de 1,5% na primeira.
O milho primeira safra está perdendo área para a soja em Estados como o Paraná, notou a companhia, citando maior rentabilidade para a oleaginosa.
Para o algodão, a expectativa é que sejam destinados 1,63 milhão de hectares para o cultivo da fibra, crescimento de 1,9% da área semeada na safra 2022/23, resultando em uma produção da pluma de 2,92 milhões de toneladas (+14,7%), com uma recuperação das produtividades.
Para as culturas de inverno, as lavouras se encontram em fase de colheita ou estágio avançado de desenvolvimento, disse a Conab. Principal produto semeado, o trigo já está colhido em 22,4% da área plantada no país, com expectativa de um novo recorde, de 9,4 milhões de toneladas, volume 22% maior que na safra anterior.
No caso do arroz, a projeção é de uma redução de 5% na área plantada, com a produção total do país ficando praticamente estável, a 10,7 milhões de toneladas.
As primeiras projeções da Conab para a safra 2022/23 apontam incremento nos estoques finais de milho (20%), algodão (17%), feijão (31%) e soja (45%) comparado à safra 2021/22, acrescentou a estatal em relatório.
No que se refere ao consumo interno, o levantamento aponta estabilidade no consumo de arroz e feijão, leve incremento na demanda por algodão (2%) e um aumento no consumo de milho e de soja, de 6,2% e 5% respectivamente.