SÃO PAULO (Reuters) - A segunda safra de milho do Brasil 2020/21 foi estimada em 66,2 milhões de toneladas, com a seca reduzindo a colheita em 15% na comparação com a projeção de 78,3 milhões de toneladas de março, apontou nesta quarta-feira a Agroconsult em relatório.
"É uma safra que não terá seu todo seu potencial expressado no campo. A irregularidade climática afetou o milho de forma severa", declarou André Debastiani, coordenador da expedição Rally da Safra, que realizará avaliação das produtividades a campo a partir de domingo.
Os altos preços estimularam os produtores a aumentar os investimentos nas lavouras e a área plantada, que chegou a 14,4 milhões de hectares na segunda safra --7% acima da temporada anterior. No entanto, isso ocorreu com o plantio mais tardio da história, empurrando o desenvolvimento das lavouras para um calendário de alto risco climático.
Segundo a consultoria, as próximas semanas serão importantes para a definição da produtividade.
"Há chuva prevista para os principais Estados produtores de milho segunda safra. Caso isso se confirme, os problemas podem até ser um pouco amenizados, principalmente no caso das lavouras mais tardias. Se continuar chovendo pouco, porém, podem ocorrer novas revisões negativas", afirmou a consultoria.
Considerando tanto a safra de verão quanto a segunda safra, a Agroconsult projeta a produção brasileira de milho em apenas 91,1 milhões de toneladas, inferior a 100 milhões de toneladas pela primeira vez desde a safra 2017/18.
"O reflexo da queda de produção se dá nos altos preços do milho no mercado, numa relação de troca muito desfavorável para a produção de frango e suínos. Isso também acontece com a indústria de etanol, que já trabalha com margens apertadas", acrescentou.
Com uma safra menor, as exportações brasileiras serão prejudicadas: a estimativa para os embarques em 2021, que já foi de 35 milhões de toneladas, agora é de apenas 26 milhões de toneladas, segundo a Agroconsult, citando ainda que a "perspectiva é de que o ano termine com os estoques em níveis muito baixos".
GARGALOS
Por enquanto, a avaliação da consultoria é de que o cenário poderia ser pior, não fosse a situação de Mato Grosso.
"A chuva no Estado não foi tão escassa quanto em outras regiões, embora também tenha sido mais irregular e mal distribuída do que em outras temporadas."
A parcela de lavouras implantada em Mato Grosso em um calendário de alto risco climático foi menor do que em outras partes do país. Apesar disso, ainda houve uma queda de 14% na produtividade em relação à temporada anterior --a estimativa atual da Agroconsult é de 94 sacas por hectare.
"Os maiores prejuízos estão concentrados no Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás, onde choveu menos", ressaltou.
No Paraná, a produtividade pode chegar a 60 sacas por hectare, 29% abaixo de 2019/20. Já em Mato Grosso do Sul, a produtividade está estimada em 62 sacas por hectare, 26% inferior à safra passada.
Em Goiás, há cenários distintos. A expectativa é de que as áreas plantadas em janeiro e fevereiro colham de 90 a 100 sacos por hectare (abaixo da média de 150 na safra passada). As lavouras mais tardias poderão chegar a 50 ou 60 sacos por hectare –-ou até deixarem de ser colhidas.
Segundo a consultoria, a exceção a esse quadro negativo vem de regiões como Rondônia e o 'Mapito' (Maranhão, Tocantins e Piauí), onde choveu bem em abril e maio, sustentando boas perspectivas para as lavouras.
(Por Ana Mano e Nayara Figueiredo)