Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - As vendas a termo de commodities no Brasil, como grãos e açúcar, estão praticamente paralisadas, conforme produtores, tradings e consultorias avaliam o impacto de um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Após um ano de boom nas exportações de açúcar e milho, produtores e comercializadores de commodities estão se preparando para uma contínua valorização do real se a presidente perder o cargo, reduzindo a vantagem de preço das commodities brasileiras e possivelmente contendo as vendas externas.
A moeda brasileira se recuperou nas últimas semanas, apesar de uma crise econômica profunda, em meio a esperanças dos investidores de que Dilma seja substituída por um governo mais pró-mercado.
"Vendedores e compradores estão basicamente apenas esperando para ver o que vai acontecer", disse Fabio Meneghin, analista sênior da consultoria Agroconsult. "Exceto por negócios para entrega imediata, não há muita coisa acontecendo".
Meneghin disse que em boa parte dos contratos a termo de grãos brasileiros os preços são fechados na entrega, ajustados por flutuações na bolsa de Chicago (CBOT) e pelo valor do real.
"Obviamente, ninguém quer tomar esse tipo de risco agora".
A corretora e consultoria INTL FCStone disse em um relatório na quarta-feira que uma mudança de governo no Brasil, com a posse do vice-presidente Michel Temer, que tem feito acenos favoráveis ao mercado, levaria a moeda local a um patamar de 3,10 reais por dólar, ante 3,54 reais atualmente.
A empresa disse que se o impeachment for rejeitado e a presidente Dilma ficar, a moeda brasileira poderia cair para 4,10 reais por dólar, elevando a vantagem de preço das exportações brasileiras.
Para a soja, a FCSotne diz que as exportações totais neste ano poderiam cair para 50 milhões de toneladas, ante estimativa atual de embarque de 54 milhões de toneladas, se houver mudança no comando do país e o real se apreciar, com perda de algumas vendas para os EUA.
No cenário alternativo, o Brasil poderia exportar até 56 milhões de toneladas.
Para o açúcar, a FCStone diz que o impeachment poderia reduzir a lucratividade das exportações do adoçante, encorajando as usinas brasileiras a aumentar a produção de etanol para ser vendido no mercado doméstico.
A corretora também disse que o impeachment de Dilma também poderia impulsionar a atual tendência de importação de milho, uma vez que as cargas vindas do exterior ficariam mais baratas para produtores brasileiros de carne suína e de aves, que sofrem com falta de oferta no mercado local.
Meneghin, da Agroconsult, disse também que produtores temem que a crise política paralise o processo de definição do plano de financiamento da próxima safra, normalmente anunciado entre maio e junho, uma vez que o governo está totalmente absorvido na luta contra o impeachment.
O último Plano Safra 2015-16 foi mais limitado, com maiores taxas de juros.
A Câmara dos Deputados deve votar no domingo a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma.
O chefe da corretora Bioagência, Tarcilio Rodrigues, espera que a oscilação do câmbio tenha impacto limitado sobre algumas commodities, como o açúcar.
"Ao menos 80 por cento do excedente exportável foi vendido e protegido com contratos futuros e cambiais, essencialmente fixando o preço do açúcar das usinas neste ano", disse.
Uma situação semelhante se deu com a soja e o milho, com os produtores aproveitando ao máximo a queda do real em 2015 para exportar volumes recordes.
Embora possam ter potenciais perdas com o movimento do câmbio caso o impechment seja aprovado, muitos produtores apoiam o processo.
A Confederação Nacional da Agricultura está organizando uma "invasão" com tratores em Brasília no domingo para pressionar os congressistas durante a votação do impeachment.
A Farmato, que representa produtores no Mato Grosso, principal produtor de grãos do país, disse que teme uma contínua deterioração da economia se Dilma continuar no comando, segundo a entidade.
(Reportagem adicional de Reese Ewing)
((Tradução Redação São Paulo, 5511 5644 7519)) REUTERS LC RBS