Demanda por carne ajudará a derrubar protecionismos no futuro, avalia diretor da Cargill

Publicado 01.09.2025, 09:36
Atualizado 01.09.2025, 09:42
© Reuters.

Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A demanda global por carnes, que cresce à medida que aumenta a renda das populações das economias de países emergentes, deverá ser no futuro importante fator para a derrubada de protecionismos, como tarifas proibitivas na Índia, beneficiando produtores de baixo custo como o Brasil, disse o diretor global de Contas Estratégicas da Cargill Nutrição Animal, à Reuters.

Para Antônio Mário Penz Junior, experiente executivo especializado em nutrição animal, com 15 anos apenas na Cargill, o processo de urbanização que envolve mudanças de hábitos alimentares e o crescimento econômico da Índia tendem a pressionar para queda de barreiras no país asiático, assim como ocorreu na China.

"Eu não tenho dúvida disso, não posso afirmar, mas não tenho dúvida. Por quê? Porque isso aconteceu na China", disse Penz, lembrando que há 30 anos essa era a expectativa com os chineses, que hoje são grandes importadores de alimentos, incluindo carnes e grãos do Brasil.

"Porque o país, per se, não consegue produzir a necessidade dessa população urbana que se tornou, mais ou menos hoje, em torno de um pouco mais de 50% da população chinesa. Então, nós estamos de novo falando de três Brasis que se urbanizaram", disse.

Na Índia, 60% da população é vegetariana, observou o diretor da Cargill, acrescentando que parte da população ainda tem restrições religiosas a algumas proteínas, como a carne bovina ou a suína.

Ainda assim, a proteína de aves, que não sofre com barreiras religiosas e culturais, já teria muitas oportunidades na Índia, não fosse a questão tarifária. Hoje os indianos taxam a importação de frango inteiro em 30% e os cortes em 100%, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o que inviabiliza o acesso ao mercado indiano pelo Brasil, maior exportador desse produto.

Penz, que vai tratar de perspectivas para o setor na conferência FACTA WPSA-Brasil, em Campinas, na próxima quarta-feira, preferiu não fazer previsões sobre quando a Índia abriria seu mercado.

"Eu diria que à medida que eles ainda têm poder de ter barreiras das mais diferentes, que inibem a importação... diria que ainda não chegou a hora... Mas isso é um processo irreversível", comentou.

Ainda que boa parte dos mais de 1,4 bilhão de habitantes da Índia seja vegetariano, o consumo de carne de aves gira em torno de 2 kg per capita/ano no país, contra 46 kg no Brasil, evidenciando o potencial. "O que não é vegetariano na Índia equivale a quase três Brasis", comentou.

O Brasil, que está entre aqueles com custo de produção de carnes mais baixo, em função da oferta abundante de matérias-primas como soja e milho, tem potencial de avançar exportação da proteína animal em países da Ásia com economia crescente e também na África, disse o executivo.

"A população do mundo cresce mais ou menos 2%. A renda per capita aumenta. Então, naturalmente, quem produz carne barata terá uma participação neste mercado internacional de carnes. Eu não consigo concorrer no mercado internacional de carnes com carnes mais caras. E o Brasil é extremamente eficiente", disse.

Penz afirmou que indicadores do órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação (FAO) apontam que, quando aumenta a renda per capita, o primeiro gasto é com alimento e, neste item, com a compra de alguma proteína de origem animal.

"Quando você olha indicadores já prevendo 2050, no caso das carnes do Brasil é um oceano azul", acrescentou.

(Por Roberto Samora)

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