ENTREVISTA-PetroRio vê entraves para produtoras independentes de petróleo no Brasil

Publicado 28.04.2017, 08:19
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Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Enquanto busca expandir a sua atuação no Brasil por meio de aquisições, a petroleira brasileira PetroRio alerta que o país tem graves entraves para o desenvolvimento das pequenas e médias empresas de petróleo, que inclusive não se sentem atendidas pelas reformas regulatórias para o setor colocadas em curso pelo atual governo.

A companhia concluiu no mês passado a aquisição da Brasoil, que detém 10 por cento do campo de Manati, um dos mais importantes produtores de gás do Brasil, na Bacia de Camamu-Almada, e permanece com apetite para novas aquisições. No entanto, a empresa se sente prejudicada por uma falta de assistência regulatória e de incentivos.

"Muitas coisas que você vê na mídia em termos de pleitos de mudanças na legislação são muito para ajudar os grandes... Você não vê tantos pleitos regulatórios que fomentem o nicho das independentes", afirmou à Reuters o diretor financeiro da PetroRio, Blener Mayhew, na sede da empresa no Rio de Janeiro.

A PetroRio passou recentemente por uma completa reestruturação que incluiu mudanças de estratégia, venda de ativos e uma importante redução do quadro de funcionários de 600 em 2013 para 100 atualmente.

Segundo Mayhew, a empresa está com uma estrutura mais enxuta e eficiente, pronta para crescer, mas tem de enfrentar um ambiente desafiador no país, classificado pelo executivo como "hostil para negócios".

"Os dois anos que a indústria está mais sofrendo no mundo inteiro... e aqui não tem ajuda nenhuma", afirmou Mayhew, ressaltando que o Estado do Rio de Janeiro tentou aumentar a arrecadação cobrando mais das petroleiras, o que foi impedido por meio de ações da indústria na Justiça.

O executivo pontuou que as maiores complicações para as petroleiras independentes envolvem cobranças de royalties em patamares que, segundo ele, prejudicam a capacidade de investimento de longo prazo das empresas menores, e dificuldades para a obtenção de financiamentos com custos adequados.

No caso da cobrança de royalties, Mayhew sugeriu que o governo poderia optar por cobrar menos royalties de ativos que produzem pouco e exigir da empresa responsável pelo campo, como contrapartida, um investimento maior para a extensão da vida útil da produção.

"No longo prazo a União acaba recebendo por mais tempo... Isso é muito comum nos Estados Unidos, aqui não consegue ter visão de longo prazo, é quase visão de político, o que interessa é nos próximos quatro anos", afirmou.

Um exemplo, segundo Mayhew, é a decisão da PetroRio de aguardar uma recuperação dos preços do petróleo para a realização de novas perfurações no campo de Polvo, na Bacia de Campos, uma área madura que produz cerca de 8 mil barris de petróleo por dia.

Isso depois de aumentar em 20 por cento a produtividade diária da áreas, por meio de intervenções em poços antigos.

Sobre a questão do financiamento, o executivo frisou que não há linhas de financiamento em instituições de fomento que atendam as pequenas produtoras de petróleo com custos e prazos adequados para as suas necessidades.

Além disso, para Mayhew, o próprio governo de Michel Temer, que é mais voltado para atender às demandas do mercado, não apresentou ainda uma solução ampla que ajude a indústria de petróleo como um todo. Segundo ele, as medidas já em curso estão demorando aquém do esperado.

ESTRATÉGIA DE AQUISIÇÕES

Mayhew afirmou que participa hoje de cerca de oito processos de concorrência para a aquisição de ativos, principalmente já em fase de produção de petróleo, no Brasil e nos Estados Unidos, e teria fôlego sozinho para comprar um ativo de 600 milhões de dólares a 800 milhões de dólares, utilizando até cerca de 120 milhões de dólares de recursos próprios e buscando o restante no mercado.

Ativos maiores, de acordo com o executivo, precisariam de investidores financeiros

Além dos oito processos de concorrência, a empresa também tem interesse em ativos da Petrobras (SA:PETR4) colocados à venda.

Segundo o executivo, a PetroRio participou de quatro processos de concorrência da Petrobras no ano passado.

Atualmente, além dos campos produtores de Polvo e Manati, a PetroRio tem outros ativos exploratórios, adquiridos juntamente com a Brasoil.

(Por Marta Nogueira)

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