SÃO PAULO (Reuters) - A estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) iniciou discussões sobre projetos de energia eólica no mar, as chamadas usinas offshore, e irá preparar um documento sobre o potencial e os desafios para a tecnologia no Brasil.
O assunto foi alvo de um workshop interno realizado na terça-feira na estatal ligada ao Ministério de Minas e Energia, disse o presidente da EPE, Thiago Barral, ao participar de evento da norte-americana GE sobre "o futuro da energia".
"Foi um dia inteiro discutindo exatamente as características desse potencial e os aperfeiçoamentos no marco regulatório (que seriam necessários para viabilizar projetos)", afirmou Barral.
"Em breve vamos publicar um 'roadmap' para eólicas offshore, para dar visibilidade a esses desafios que essa solução enfrenta e que precisam ser endereçados", acrescentou ele, sem apontar quando o material poderá ser divulgado.
No mesmo evento, o gerente-geral de Planejamento e Marketing de Gás e Energia da Petrobras (SA:PETR4), Álvaro Ferreira, disse que a petroleira estatal tem estudado a tecnologia eólica offshore, que mostra um potencial muito elevado, principalmente no litoral do Nordeste.
"Se você pega um Estado como Rio Grande do Norte ou Ceará, a costa desses Estados, e vai no mar, com uma lâmina d'água de 30 metros... o potencial de energia primária disponível nessa localização é muito maior que a demanda total do Brasil em qualquer prazo", afirmou.
Ele acrescentou, no entanto, que ainda é preciso avaliar a viabilidade financeira desses projetos, o que passaria pelas discussões sobre o marco regulatório.
A Petrobras assinou em setembro passado um memorando de entendimento com a norueguesa Equinor para possíveis investimentos conjuntos em eólicas offshore no Brasil.
LONGO PRAZO?
Embora investimentos globais em eólicas offshore venham crescendo fortemente, a tecnologia não deve ser competitiva de imediato no Brasil, onde há farta oferta de terras e excelentes ventos para usinas onshore, disse o CEO da desenvolvedora de projetos eólicos Casa dos Ventos, Mario Araripe.
"A evolução da tecnologia offshore é muito grande, mas aqui para o Brasil ela ainda vai demorar um pouco", afirmou o executivo, que também participou do evento da GE.
Como exemplo, Araripe disse que o país teria hoje cerca de 40 gigawatts em áreas 'onshore' com "ventos de qualidade offshore", diferentemente da Europa, onde os ventos nas usinas offshore geram 70 por cento mais energia.
"Aqui no Brasil também existe outra coisa interessante, porque onde existe vento a utilidade substituta é muito pequena. Terra que tem muito vento só serve pra vento. Nem sem-terra quer, você não tem sem-terra invadindo", brincou o engenheiro.
A Casa dos Ventos tem um portfólio de cerca de 15,5 gigawatts em projetos eólicos em desenvolvimento, além de já ter trabalhado em 5,5 gigawatts em empreendimentos já em operação ou em construção, a maior parte deles vendidos para terceiros.
Em 2018, foram colocadas em operação no mundo 4,3 gigawatts em turbinas eólicas offshore, com a China respondendo por 1,7 gigawatt. Já as turbinas onshore somaram quase 10 vezes mais, ou 45 gigawatts, segundo dados da BloombergNEF.
(Por Luciano Costa)