RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um leilão para contratação de usinas térmicas a gás proposto em uma consulta pública aberta recentemente pelo Ministério de Minas e Energia poderá ocorrer já no primeiro trimestre de 2019, afirmou a jornalistas nesta segunda-feira o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Reive Barros.
O ministério tem defendido que as térmicas são necessárias para atender requisitos de potência do sistema elétrico, mas a ideia do certame tem enfrentado algumas oposições no mercado de energia.
Na semana passada, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, defendeu que o governo realize mais estudos antes de seguir adiante com a proposta.
Para Barata, os requisitos de potência poderiam ser alcançados com outras medidas, como a implementação de máquinas adicionais em hidrelétricas hoje já em operação, por exemplo.
"A visão da EPE é totalmente contrária à visão de Barata. E a visão de Barata não é a visão do ONS", disse Barros, durante um evento na sede da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Um dos pontos que têm sido criticados na pretendida contratação das termelétricas é a pressa do governo Michel Temer em emplacar a medida, que mesmo que seja levada adiante envolveria uma licitação já na administração do presidente eleito Jair Bolsonaro.
A consultoria especializada PSR, por exemplo, defendeu que a decisão do certame fosse deixada para o próximo governo.
Mas, segundo Barros, uma nota técnica conjunta entre ONS e EPE demonstraria que, com o atual nível de intermitência na geração de energia, devido ao crescimento das usinas eólicas, seriam necessárias máquinas com inércia no sistema.
"Essas máquinas com inércia a gente só consegue de duas formas: ou hidrelétrica ou termelétrica. A hidrelétrica nós não conseguimos porque os reservatórios estão vazios. Todo parque hidrelétrico do Nordeste não está em operação plena", afirmou.
Barros argumentou que a região Nordeste fica muito vulnerável e depende de envios de energia pelo Sudeste, principalmente no período seco, quando as linhas de transmissão estão mais suscetíveis a problemas por queimadas e descargas atmosféricas, por exemplo.
Ele disse que a visão é de que haverá um crescimento importante de capacidade de energia eólica e solar na próxima década, o que deverá reforçar a necessidade de térmicas para estabilizar o sistema.
"Isso significa dizer que terá mais intermitência e quando tem mais intermitência é preciso mais inércia", explicou.
O presidente da EPE ressaltou, no entanto, que a potência total que a ser contratada no leilão ainda não está definida.
Ele defendeu também a ideia de que as diferentes regiões do país sejam autossuficientes energeticamente e que a geração fique perto da carga.
A primeira proposta do governo para o leilão previa a contratação de usinas térmicas no Nordeste.
Após críticas, o Ministério de Minas e Energia colocou em consulta pública uma proposta que prevê contratar térmicas nas regiões Sudeste/Cento-Oeste, Sul e Nordeste, com início de operação em 2023 e 2024.
HIDRELÉTRICAS MÉDIAS
Barros defendeu ainda que é preciso encontrar meios para financiar estudos para a construção de hidrelétricas de médio porte, com capacidade entre 50 megawatts e 1.000 megawatts.
Segundo ele, um estudo junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontou um potencial de 45 mil megawatts para implementação de usinas desse porte. Desse potencial, 30 mil MW seriam na região Norte e o restante dividido entre Sudeste, Centro Oeste, Sul e Nordeste.
"Nossa expectativa é que o PDE (Plano Decenal de Energia) 2028/2029, em vez de ter 1.800 MW (em usinas hidrelétricas a serem licitadas), tenha um valor superior", disse Barros, pontuando que todas as fontes de energia são bem-vindas.
A atual versão do PDE, que traça diretrizes para o setor de energia até 2027, prevê que novos projetos hidrelétricos com cerca de 1.824 megawatts em capacidade poderão ser licitados no período.
(Por Marta Nogueira)