Por Nina Chestney e Vera Eckert
LONDRES/FRANKFURT (Reuters) - O Nord Stream 1, importante gasoduto que transporta gás russo para a Alemanha, começou sua manutenção anual nesta segunda-feira, com previsão de interrupção dos fluxos por 10 dias, mas governos, mercados e empresas estão preocupados que a paralisação possa ser estendida por causa da guerra na Ucrânia.
O Nord Stream 1 transporta 55 bilhões de metros cúbicos (bcm) por ano de gás da Rússia para a Alemanha sob o Mar Báltico. A manutenção dura de 11 a 21 de julho.
O operador Nord Stream AG confirmou que o desligamento começou conforme planejado na manhã desta segunda-feira e que os fluxos de gás cairiam para zero algumas horas depois.
No mês passado, a Rússia cortou os fluxos para 40% da capacidade total do gasoduto, citando o atraso no retorno de equipamentos que estão sendo reparados pela alemã Siemens Energy (ETR:ENR1n) no Canadá.
O Canadá disse no fim de semana que devolveria uma turbina consertada, mas também disse que ampliaria as sanções contra o setor de energia da Rússia.
A Europa teme que a Rússia possa estender a manutenção programada para restringir ainda mais o fornecimento de gás europeu, atrapalhando os planos de carregar os estoques para o inverno e aumentando uma crise de gás que levou a medidas de emergência dos governos e contas dolorosamente altas para os consumidores.
O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, disse que o país deve enfrentar a possibilidade de a Rússia suspender os fluxos de gás através do Nord Stream 1 além do período de manutenção programado.
"Com base no padrão que vimos, não seria muito surpreendente agora se algum pequeno detalhe técnico fosse encontrado e eles pudessem dizer 'agora não podemos mais ligá-lo'", disse ele em um evento em final de junho.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou as alegações de que a Rússia estava usando petróleo e gás para exercer pressão política, dizendo que a paralisação de manutenção era um evento regular e programado e que ninguém estava "inventando" nenhum reparo.
Existem outros grandes gasodutos que conectam Rússia e Europa, mas os fluxos vêm diminuindo gradualmente e a Ucrânia interrompeu uma das rotas em maio, alegando uma interferência por ocupação de forças russas.
A Rússia cortou o fornecimento de gás para vários países europeus que não cumpriram sua exigência de pagamento em rublos.
"Os últimos meses mostraram uma coisa: Putin não conhece tabus. Uma interrupção completa do fornecimento de gás através do gasoduto Nord Stream não pode ser descartada", disse Timm Kehler, diretor administrativo da associação industrial alemã Zukunft Gas.
A Alemanha iniciou o estágio dois de um plano de emergência de gás de três níveis --um passo antes de o governo começar a racionar o consumo de combustível.
O governo alemão também alertou para uma recessão se os fluxos de gás russos forem interrompidos. O golpe na economia pode ser de 193 bilhões de euros (195 bilhões de dólares) no segundo semestre deste ano, mostraram dados da associação industrial vbw do estado da Baviera no mês passado.
"O fim abrupto das importações de gás russo também teria um impacto significativo sobre a força de trabalho na Alemanha... Cerca de 5,6 milhões de empregos seriam afetados pelas consequências", disse Bertram Brossardt, diretor administrativo da vwb.
Os efeitos seriam ainda mais amplos. Uma paralisação completa manteria os preços do gás na Europa mais altos por mais tempo, uma questão que já tem afetado indústria e famílias.
Os preços no atacado do gás holandês, referência europeia, subiram mais de 400% desde julho passado.
(Por Nina Chestney em Londres e Vera Eckert em Frankfurt; reportagem adicional de Tom Kaekenhoff em Frankfurt, Steve Scherer em Ottawa, Toby Sterling em Amsterdã e Miranda Murray e Riham Alkousaa em Berlim)