Por Jonathan Landay e Yara Bayoumy
WASHINGTON (Reuters) - A estratégia do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para conter o poder do Irã no Oriente Médio atraindo aliados árabes para uma aliança de segurança apoiada por Washington já era problemática antes mesmo do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Agora, dizem três fontes dos EUA, o plano enfrenta novas complicações.
A morte de Khashoggi dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro provocou uma revolta internacional contra o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, e autoridades turcas e alguns parlamentares norte-americanos acusaram o governante de fato do reino de ter ordenado o assassinato.
A Aliança de Segurança do Oriente Médio (Mesa) pretende unir os governos muçulmanos sunitas da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Catar, Omã, Barein, Egito e Jordânia em um pacto político, econômico e de segurança liderado pelos EUA para fazer frente ao Irã xiita.
Mas as desavenças entre aliados árabes, especialmente um boicote político e econômico ao Catar liderado pelos sauditas, vêm impedindo a criação da aliança desde que Riad a propôs no ano passado.
Uma cúpula nos EUA na qual Trump e os aliados árabes assinariam um acordo preliminar para a aliança era esperada para janeiro, mas as três fontes norte-americanas e um diplomata do Golfo Pérsico disseram que agora a reunião parece incerta, acrescentando que ela já foi adiada várias vezes.
O assassinato de Khashoggi criou "um monte de problemas" para serem resolvidos antes de o plano --informalmente apelidado de "Otan árabe"-- poder avançar, disse uma fonte dos EUA. Uma das questões é como Washington faria para o príncipe herdeiro saudita, conhecido pelas iniciais MbS, participar da cúpula sem causar uma revolta generalizada.
"Não é palatável", disse a fonte.
Na terça-feira uma autoridade de alto escalão do governo Trump negou que a morte de Khashoggi complique o progresso da aliança, dizendo que a Mesa "é muito maior do que um país e uma questão".
Riad negou o envolvimento de MbS no assassinato de Khashoggi e disse que uma investigação sobre os responsáveis está em andamento.
Robert Malley, um dos principais conselheiros do ex-presidente Barack Obama para o Oriente Médio que hoje comanda o International Crisis Group, uma organização de prevenção de conflitos, disse que será difícil MbS comparecer à cúpula de janeiro "dado o que aconteceu e como as emoções estão à flor da pele".