Farelo e óleo de soja do Brasil ganham com mudança em tributos da Argentina, avalia Abiove

Publicado 06.08.2025, 11:42
Atualizado 06.08.2025, 19:55
© Reuters. Soja em mercado na China

Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A competitividade do óleo e do farelo de soja da Argentina, maior exportadora desses derivados da oleaginosa, ficou um pouco menor após uma mudança no diferencial tributário em relação à soja em grão, o que pode beneficiar a exportação dos produtos processados do Brasil, avaliou um diretor da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), em entrevista à Reuters.

Desde 31 de julho, o imposto de exportação de farelo e óleo de soja argentinos caiu para 24,5%, versus 31% anteriormente, enquanto o governo do presidente Javier Milei reduziu o tributo das vendas externas da soja em grão a 26%, ante 33% previamente.

Ou seja, o diferencial tributário dos derivados da oleaginosa ante o grão, que era de 2 pontos percentuais, passou para 1,5 ponto, pontuou o diretor de Economia e de Assuntos Regulatórios da Abiove, Daniel Furlan Amaral, ao ser questionado pela Reuters.

Embora o imposto dos derivados de soja continue menor frente o da soja, "isso reduz um pouco a competitividade do farelo e do óleo da Argentina", destacou Amaral, que atua na associação que reúne as principais multinacionais do setor e também importantes companhias do Brasil, o 2º exportador global de farelo de soja e óleo.

"Esse diferencial parece pouco, mas sempre foi aquilo que conseguiu canalizar investimentos na indústria esmagadora de soja da Argentina", destacou ele, citando também vantagens logísticas da Argentina.

Ainda assim, o presidente da câmara de exportadores de grãos da Argentina (CIARA-CEC) rejeitou a ideia de que a mudança do imposto de exportação possa afetar os números de esmagamento de soja do país.

"Não há melhora nem perda na competitividade da moagem de soja da Argentina devido a uma mudança na alíquota de exportação", disse Gustavo Idigoras.

A Argentina deverá exportar 30 milhões de toneladas de farelo de soja em 2025/26, versus 23,2 milhões de toneladas embarcadas pelo Brasil, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). No óleo de soja, a dianteira dos argentinos deve ser ainda maior, com 6,6 milhões de toneladas, ante 1,3 milhão dos brasileiros.

"No fundo, esse diferencial tributário acaba sendo um fator importante de competitividade para a indústria argentina. Porque ela consegue, com esse diferencial, ficar com um custo relativamente menor do que outros países", acrescentou Amaral.

Segundo o diretor da Abiove, como a Argentina exporta farelo de soja basicamente para os mesmos clientes do Brasil, a alteração pode abrir oportunidades de concorrência, que antes era mais difícil.

"O farelo brasileiro fica mais competitivo, porque se a Argentina hoje tem menos margem para se aproveitar dessa diferença de tributos, os concorrentes, no caso o Brasil, passam a ter um pouquinho mais de competitividade também."

SOJA EM GRÃO

E, no caso do grão argentino, o novo diferencial tributário acabará beneficiando os agricultores e também as exportações da matéria-prima nos próximos anos, avaliou Amaral, citando outro aspecto da mudança.

"O que isso traz, na minha opinião, é uma possibilidade de revitalização da produção de soja na Argentina, que é algo também que não vai se materializar no curtíssimo prazo. Mesmo as lavouras anuais levam aí um ciclo de dois a três anos para produzir todos os efeitos, mas é uma sinalização de que é possível que os argentinos voltem a investir mais em tecnologia (agrícola)", disse.

A Argentina é terceiro produtor mundial de soja, atrás dos EUA, em segundo, e do Brasil, que lidera o ranking.

O Brasil, por outro lado, exporta muito mais grãos do que a Argentina, com embarques projetados em 2025/26 pelo USDA em 112 milhões de toneladas, contra apenas 5 milhões dos argentinos. As exportações brasileiras da matéria-prima são fortemente focadas na China, que prioriza o processamento local.

Apesar das alterações, ponderou Amaral, a estrutura tributária da Argentina segue favorecendo mais a agregação de valores no processo, ou seja, a produção de farelo e óleo em detrimento da soja.

(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Maximilian Heath)

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