Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - As geadas desta terça-feira, que se estenderam por boa parte do centro-sul do Brasil, pouparam as lavouras de cana-de-açúcar e de café arábica em São Paulo e Minas Gerais, mas já levantam preocupações quanto a perdas para a produção de trigo no Paraná, Estado mais afetado pelo fenômeno.
"Tivemos geadas fortes no oeste. No norte, a princípio, não tivemos relatos (de geadas fortes). Mas só vamos saber a dimensão disso tudo daqui uma semana", afirmou à Reuters o especialista do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral), Carlos Hugo Godinho.
No Paraná, praticamente metade das áreas produtoras de trigo, o equivalente a 450 mil hectares, correm risco de prejuízos por causa das geadas desta semana --o fenômeno deve ser mais forte na quarta-feira.
Segundo ele, os episódios desta terça se concentraram entre os municípios de Campo Mourão (oeste) e Cascavel (sudoeste), onde as lavouras de trigo estão em fase de enchimento de grãos e, portanto, mais suscetíveis a perdas.
Apenas esses municípios semearam 115 mil e 99,2 mil hectares com trigo, respectivamente, e estão entre os principais produtores do Estado, o maior produtor do grão no país.
O Estado deve produzir pouco mais de 3 milhões de toneladas de trigo neste ano, ou mais da metade da colheita nacional do cereal, prevista em 5,6 milhões de toneladas.
Perdas no Paraná podem elevar a necessidade de importação de trigo pelo Brasil, um importador líquido do cereal, com compras externas estimadas em 7 milhões de toneladas pelo Ministério da Agricultura.
ALÉM DO PARANÁ
As geadas só não avançaram para além do Paraná porque há uma "linha de instabilidade, um sistema de chuvas" impedindo isso, segundo o agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos. Ele descarta geadas nesses Estados nos próximos dias.
Santos ressaltou que lavouras de cana-de-açúcar e de café arábica de São Paulo e Minas Gerais, os dois principais produtores nacionais dessas culturas, foram poupadas de geadas que atingiram nesta terça-feira.
Conforme a previsão do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), o frio mais intenso está previsto para quarta-feira, com geadas fortes em boa parte do oeste, o que preocupa produtores de trigo, e moderada também no norte do Estado, onde se concentram os cafezais.
"Para essa próxima madrugada tem uma perspectiva de um maior resfriamento para toda a região cafeeira (do Estado), mas até agora não tivemos informações de perdas para os cafeicultores", destacou o especialista em café do Deral, Paulo Sérgio Franzini.
Ele lembrou que as geadas de agora ocorrem exatos 42 anos depois da "geada negra", que queimou os cafezais de todo o Estado em noite de 17 para 18 de julho de 1975. À época, o Paraná era o maior produtor nacional do grão, mas após o fenômeno nunca mais recuperou o protagonismo nessa cultura.
O Deral estima produção de 1,2 milhão a 1,3 milhão de sacas de 60 kg de café neste ano, em uma área de 46 mil hectares. Para o trigo, a expectativa é de 3,07 milhões de toneladas em 977 mil hectares.
Quanto ao milho, que não gerou preocupações dado o estágio avançado de maturação, a previsão do departamento é de produção de 13,8 milhões de toneladas, em uma área de 2,4 milhões de hectares.