Por Brad Brooks e Stephen Eisenhammer
SÃO PAULO (Reuters) - O inquérito policial sobre corrupção e condições insalubres da poderosa indústria de carnes do Brasil contém mais de 8 mil páginas de evidências sugerindo fraude sistemática, não só crimes isolados, disseram três fontes com conhecimento direto da investigação.
A evidência, segundo eles, irá contradizer declarações do governo e companhias de carne de que as ações policiais na semana passada contra frigoríficos acusados de propinas para ocultar violações mancharam injustamente o setor.
O setor de carnes brasileiro, que enfrenta suspensões de mais de uma dúzia dos mais de 150 países para o qual exporta, luta para preservar negócios que geraram 14 bilhões de dólares em exportações em 2016.
Até o momento, a polícia tornou pública somente uma pequena porcentagem dos supostos abusos de frigoríficos, segundo as fontes, desde companhias pequenas que fornecem ao mercado interno até grandes exportadoras que estão entre as maiores companhias alimentícias do mundo.
A maioria dos possíveis crimes, segundo as fontes, continua sob sigilo judicial.
“A investigação foca na corrupção endêmica”, disse à Reuters uma fonte com conhecimento direto da investigação, falando sob a condição de anonimato. A fonte não está autorizada a discutir publicamente a investigação.
Nenhuma das três fontes citou nomes de companhias ou pessoas envolvidas nas evidências.
A Polícia Federal se negou a comentar.
Uma porta-voz do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento disse que o ministério irá trabalhar com a polícia e lidar com mais detalhes à medida que eles surgirem. Desde o surgimento do escândalo há uma semana, frigoríficos e autoridades do governo buscam um equilíbrio entre condenar quaisquer atos irregulares e declarar que o Brasil ostenta os padrões sanitários mais altos de qualquer indústria de carnes no mundo.
A operação de dois anos, conhecida como Carne Fraca, já apresentou acusações contra mais de 100 pessoas, em maioria inspetores sanitários por recebimento de propinas, permissão de venda de produtos vencidos, falsificação de documentos de exportação ou por não terem inspecionado os frigoríficos. Procuradores ainda precisam apresentar acusações.
Ainda assim, governos da China, Hong Kong, a União Europeia e outros grandes compradores anunciaram recentemente ao menos banimentos parciais de carnes importadas brasileiras.
A BRF (SA:BRFS3) e a JBS (SA:JBSS3), duas das maiores gigantes do setor alimentício, estão entre as dezenas de companhias que foram alvo da PF, segundo documentos judiciais. Ambas companhias negam quaisquer atos irregulares.
Alguns políticos e autoridades do governo, incluindo o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, acusam investigadores de buscarem os holofotes e sensacionalizar a investigação.
As críticas fizeram com que o diretor-geral da PF emitisse um comunicado conjunto com o Ministério da Agricultura na terça-feira, dizendo que incidentes descobertos pela polícia "não representam um mal funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro". As fontes disseram que a polícia concordou em emitir o comunicado para aliviar pressão política e continuar a investigação em ambiente mais calmo. A polícia não respondeu a um pedido de comentário sobre o comunicado.