Por Rodrigo Viga Gaier e Pedro Fonseca e Alexandra Alper
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A 14ª Rodada de Licitação de blocos de petróleo e gás terminou com um bônus total recorde de 3,84 bilhões de reais, com 95 por cento desse montante sendo arrecadado em lances por blocos na Bacia de Campos, feitos por Petrobras (SA:PETR4) e Exxon Mobil (NYSE:XOM), que voltou a realizar grandes investimentos no Brasil.
Somente os oito blocos arrematados nessa bacia, a última a ser leiloada, resultaram em um bônus de mais de 3,65 bilhões de reais, montante que salvou uma rodada de licitações que vinha registrando pequeno interesse.
Os grandes lances realizados, em uma área em que a Petrobras detém elevado conhecimento, estariam ligados à possibilidade de ali existirem as produtivas reservas do pré-sal, ainda que o leilão desta quarta-feira não tenha tido como foco esse polígono.
"Não pagaríamos o valor que pagamos se não tivéssemos informações de que isso (áreas em Campos) vale", disse o presidente da Petrobras, Pedro Parente, ao ser questionado sobre o assunto.
"(Pré-sal) É uma possibilidade nessas áreas porque está vizinho ao pré-sal, e vamos aprofundar isso no momento da exploração", adicionou ele.
Com um elevado endividamento, o presidente da Petrobras reafirmou que empresa foi "seletiva" em suas ofertas e ressaltou que parcerias como as realizadas com a Exxon são importantes, pois o setor demanda grandes investimentos e há riscos exploratórios.
Nos principais lances, a Petrobras e a Exxon atuaram em parceria. O maior bônus de assinatura do leilão foi de cerca de 2,24 bilhões de reais pelo bloco C-M-346, oferecido pelo consórcio em que cada empresa detém 50 por cento e a estatal brasileira é a operadora.
Mas a Exxon, maior petroleira listada do mundo, entrou sozinha em dois blocos de Campos, com ofertas que superaram 60 milhões de reais, além de ter levado áreas em parceria com Queiroz Galvão e Murphy na Bacia Sergipe-Alagoas.
Atualmente, a companhia com sede nos EUA detém apenas dois blocos em bacias de menor importância (Potiguar e Ceará).
Em entrevista à Reuters, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, afirmou que a entrada mais forte da Exxon no Brasil é uma questão estratégica para a empresa norte-americana. Ele disse acreditar que a petroleira fará também ofertas por áreas do pré-sal, em dois leilões de outubro.
O certame desta quarta-feira ocorreu em meio a protestos de um pequeno grupo de manifestantes contrários à exploração de petróleo, que tentou invadir o local do leilão em um hotel no Rio de Janeiro.
Os manifestantes foram detidos por seguranças e impedidos de entrar. Apesar da tensão, o leilão prosseguiu normalmente e as pessoas que protestavam, algumas vestidas com roupas indígenas, foram retiradas do hotel.
LANCES SALVADORES
Pode-se dizer que os lances bilionários do consórcio formado por Petrobras e Exxon salvaram a rodada em termos de arrecadação para o governo federal, já que contrastaram com os outros arremates "modestos" ocorridos na 14ª Rodada.
Após o certame, o diretor-geral da reguladora ANP, Décio Oddone, disse que as ofertas na Bacia de Campos "surpreenderam positivamente", com as mudanças regulatórias realizadas pelo governo tornando o ambiente de negócios mais atraente a empresas de diferentes portes.
O número final da 14ª Rodada superou as expectativas do governo, que esperava arrecadar ao menos 1 bilhão de reais.
Apesar da boa arrecadação com a Bacia de Campos, o total de blocos arrematados na rodada (37) representou quase 13 por cento dos 287 ofertados, um índice baixo frente a rodadas anteriores.
No último leilão do gênero, em 2015, quando a Petrobras não participou em meio ao escândalo de corrupção que atingiu a empresa, apenas 14 por cento dos blocos foram arrematados, ante cerca de 50 por cento das áreas levadas em uma rodada em 2013, após um período de cinco anos sem licitações da ANP.
No leilão desta quarta-feira, participaram ao todo 20 empresas, originárias de oito países. Delas, 17 arremataram blocos, sendo dez nacionais e sete de origem estrangeira.
A 14ª Rodada começou por volta das 9h com a Parnaíba Gás Natural, subsidiária integral da elétrica Eneva (SA:ENEV3) levando cinco blocos na Bacia do Parnaíba.
Na Bacia de Santos, onde havia expectativa de maior interesse por parte das companhias, somente um dos 76 blocos foi arrematado pela empresa australiana Karoon.
Quanto à Bacia do Recôncavo, 7 dos 27 blocos foram levados pelas empresas Petroil, Guindaste Brasil, Tek e Great Energy.
Já na Bacia Potiguar apenas um bloco foi arrematado dentre os 62 ofertados, tendo a empresa Geopark Brasil como vencedora, enquanto a Bacia de Pelotas não recebeu ofertas.
A chinesa CNOOC e a espanhola Repsol (MC:REP) levaram áreas marítimas na Bacia do Espírito Santo, com bônus de 23,55 milhões e de 23 milhões de reais, respectivamente.
Por fim, na Bacia do Paraná, a Petrobras arrematou um bloco por 1,690 milhão de reais.
Conforme a ANP, a assinatura dos contratos está prevista para ocorrer até o dia 31 de janeiro de 2018. A área total arrematada foi de 25,011 mil quilômetros quadrados.
(Por Alexandra Alper, Pedro Fonseca e Rodrigo Viga Gaier)