Por Roberto Samora e Lisandra Paraguassu
SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sinalizou nesta quinta-feira que o Brasil pode aceitar um convite para se juntar ao grupo de países produtores de petróleo Opep+, mas observou que uma equipe técnica do governo ainda avalia o documento recebido.
"Esperamos nos juntar a este distinto grupo e trabalhar com todos os 23 países nos próximos meses e anos", destacou Silveira, durante um encontro com membros da Opep+.
Na reunião, ele disse ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "confirmou nossa carta de cooperação" com o grupo de países produtores de petróleo a partir de janeiro de 2024.
Ao final de sua fala, Silveira fez uma ponderação, dizendo que "está tudo certo, de acordo", mas lembrou que "há uma etapa de análise detalhada pela nossa equipe técnica do documento recebido agora há pouco que faz parte do protocolo do Brasil".
O Brasil é maior produtor de petróleo da América do Sul, com uma produção de 4,66 milhões de barris de óleo equivalente ao dia (petróleo e gás) em setembro.
A eventual participação do Brasil em um grupo que determina, por exemplo, cortes de produção de petróleo por parte de seus membros seria polêmica, uma vez que o país é uma economia de mercado, contando com empresas listadas em bolsa, como a Petrobras (BVMF:PETR4), entre outras. Há ainda multinacionais que atuam em importantes campos do pré-sal.
Não ficou imediatamente claro como seria a participação do Brasil na Opep+, se como observador ou participante das cotas de produção.
Mas o Brasil não deve participar de sistema de cotas de produção da Opep+, que pode levar a cortes no fornecimento de petróleo, disseram três fontes com conhecimento à Reuters.
Uma das principais resistências para o Brasil participar das cotas é a Petrobras, que busca elevar sua extração no país, para ampliar a oferta de derivados no mercado interno. Além disso, a companhia obtém importantes receitas com exportações de petróleo.
"É correto dizer que a Petrobras não aceitaria corte de produção (para atender a Opep)", disse uma fonte próxima da estatal.
Especialistas do setor também consideraram que não tem lógica o Brasil entrar na Opep+ como participante dos programas de cotas de produção.
"Me parece que não faz nenhum sentido. Como o Brasil implementaria regime de cotas estipuladas pelo cartel? Sem falar que existe um antagonismo, o cartel gosta de petróleo caro e o Brasil de petróleo barato", afirmou o diretor do Centro Brasileiro Infraestrutura (CBIE), Pedro Rodrigues, ao ser consultado pela Reuters.
"Loucura (entrar na Opep). Tem todas as desvantagens e nenhuma vantagem. Se obrigar a limitar a exportação, como vai fazer isso? Forçar a Petrobras?", disse uma fonte com vasto conhecimento do setor. "E o preço sobe. Vai transferir para o consumidor?", acrescentou.
A fonte próxima da Petrobras disse que seria preciso analisar também que o Brasil teria dificuldades de seguir algumas diretrizes da Opep+, se o Brasil participasse das cotas. "Até porque quase dois terços do óleo da empresa é processado nas refinarias da companhia", disse.
"Essa conversa já tinha aparecido no governo Bolsonaro e felizmente foi ultrapassada", disse a ex-diretor-geral da reguladora do setor de petróleo Magda Chambriard. "Pessoalmente, acho que só atrapalha."
Procurado, o Palácio do Planalto disse por meio de sua assessoria de imprensa que o Brasil foi convidado a integrar a Opep+ durante viagem do presidente Lula à Arábia Saudita, mas acrescentou que o governo brasileiro ainda analisa o tema.
ELOGIOS
Silveira fez declarações cheias de elogios à Opep+, grupo integrado por Arábia Saudita e Rússia, dizendo que o Brasil acompanha com entusiasmo o trabalho "valoroso" da grupo.
Segundo ele, a Opep+ preserva a "estabilidade dos mercados de petróleo e energia".
Ele disse ainda que esta "estabilidade traz consigo benefícios não só a países produtores de petróleo, mas também aos consumidores".
Decisões de cortes de produção da Opep+, entretanto, costumam elevar os preços do petróleo no mercado global, à medida que nações como a Arábia Saudita se beneficiam de cotações mais altas.
"É um momento histórico para o Brasil e a indústria energética, abre um novo capítulo na história do diálogo e cooperação no campo de energia", afirmou Silveira.
(Por Roberto Samora e Lisandra Paraguassu; com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira, no Rio de Janeiro)