Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, avaliou nesta sexta-feira que o dólar valorizado vem protegendo a rentabilidade do produtor de soja contra a queda nos preços internacionais, ressaltando que o momento é bom para busca de proteção cambial diante da volatilidade do mercado.
Nesta sexta-feira, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que o Brasil deverá ter uma produção recorde de soja acima de 100 milhões de toneladas na temporada 2015/16, com um crescimento da área plantada e expectativa de um clima favorável.
A soja é o principal produto cultivado pelo país e também deverá se consolidar em 2015 como o principal da pauta exportadora do Brasil.
"Mesmo que venha alguma redução de preço em dólar, o produtor está protegido pelo patamar de câmbio", disse Nassar, ao ser questionado por jornalistas se o aumento da oferta no país e no mundo não pressionaria os preços da soja, dificultando as condições para o produtor.
No ano, a moeda norte-americana acumula valorização de mais de 40 por cento.
No entanto, Nassar fez ainda um apelo pelo hedge cambial diante da volatilidade dos mercados, que vêm sendo guiados tanto pela expectativa de aumento nos juros nos Estados Unidos quanto pelas incertezas fiscais e políticas no Brasil.
"É muito importante que os produtores de fato se protejam, não venham a acreditar em desvalorizações futuras. É muito bom se proteger logo porque é um momento bom pra se proteger", disse.
"Se protegendo, aproveitando o câmbio, entendo que variações em dólar no preço da soja não vão afetar tão fortemente a renda pro ano que vem", acrescentou Nassar.
Presente no evento da Conab, o diretor-executivo da associação dos produtores de soja Aprosoja Brasil, Fabricio Rosa, disse que cerca de 50 por cento da safra no Brasil já foi comercializada, sendo que a metade restante está exposta ao risco de variação cambial, o que pode impactar as margens para o produtor.
"O câmbio extremamente valorizado tem garantido margens aos produtores de todo o país, de forma irrestrita. Mas sabemos que uma inflexão do dólar pode causar prejuízo muito grande, até porque esse produtor hoje já comprou insumo elevado. Comercializar com dólar menor vai comer a margem dele", afirmou.
A Aprosoja prevê uma expansão mais modesta na produção de soja nesta safra, de 2 a 3 por cento ante 2014/15, contra crescimento de até 6 por cento visto pela Conab.
"Acreditamos que (a diferença na projeção se dá) por uma série de fatores, não só com relação à questão do crédito, mas principalmente porque os produtores também com elevação do custo de produção eles reduziram pacote tecnológico nessa safra, o que significa redução também da aplicação de fertilizantes", afirmou Rosa.
Ele também chamou a atenção para uma conjuntura de chuvas abaixo da média, citando o caso de Goiás, que no ano passado teve problema "seríssimo".
CRÉDITO E CLIMA
Bastante questionado sobre as condições de crédito para os produtores diante de reclamações sobre a falta de acesso a financiamento num ano de ajustes na economia, o secretário de Política Agrícola disse que a situação registrou uma melhora.
"Os dados até setembro mostram que 90 por cento do (crédito de) pré-custeio foi retomado. Ou seja, isso significa que o crédito voltou a fluir da forma como a gente esperava", disse.
"O início da safra 15/16 é um início positivo do ponto de vista da fluidez do crédito rural dentro do que a gente planejou no Plano Safra."
Sobre a influência do El Niño para as lavouras, o diretor de Política Agrícola da Conab, João Marcelo Intini, reconheceu haver preocupação com a diminuição de chuvas para a região Nordeste, mas apontou que no Sul a umidade pode ser favorável em determinados momentos.
"Nossa expectativa de expansão da safra representa fotografia de muita realidade, muito pé no chão", afirmou.
No primeiro levantamento da atual safra de grãos, a Conab prevê que a produção no país pode variar de 210,3 milhões a 213,5 milhões de toneladas, ante 209,8 milhões de toneladas na safra de 2014/15.