Por Rodrigo Viga Gaier e Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras (SA:PETR4) elevou nesta quarta-feira os preços da gasolina em 6 por cento e os do diesel em 4 por cento, em reajustes nas refinarias vistos como insuficientes para resolver problemas da estatal agravados pela disparada do dólar, que pode motivar novos aumentos nos valores desses combustíveis caso o câmbio continue a se desvalorizar.
Foi o primeiro reajuste da gasolina e do diesel desde novembro e o primeiro da atual diretoria, num momento em que a forte alta do dólar frente ao real impacta custos de importação e eleva o endividamento em moeda estrangeira da companhia.
O reajuste, anunciado na noite de terça-feira, ocorre após a Petrobras ter divulgado no início do mês o primeiro reajuste do gás de cozinha desde 2002, que foi seguido por uma alta de mais de 10 por cento do gás para consumo industrial e comercial, na semana passada.
Tais movimentos, inesperados para alguns analistas no caso da gasolina e do diesel --cujo consumo registra queda este ano no Brasil--, vêm num momento em que a diretoria comandada por Aldemir Bendine, que assumiu o posto de presidente-executivo em fevereiro, busca ganhar a confiança do mercado, ainda que haja falta de clareza sobre a fórmula para a alta dos preços dos combustíveis.
"Nós buscamos preços competitivos e alinhados ao mercado internacional. Essa é a política do presidente Bendine para garantir a competitividade da companhia. A meta é ter custos competitivos, mas temos de ter preços competitivos", afirmou uma fonte da empresa, na condição de anonimato.
"Se o dólar subir mais ainda, é claro que vamos ter que fazer novo aumento para manter preço competitivo", disse a fonte.
Embora os preços internacionais do petróleo tenham caído dramaticamente desde o ano passado, o enfraquecimento de cerca de 35 por cento do real contra o dólar neste ano significa que os preços nas refinarias no Brasil permanecem relativamente baixos, especialmente no caso da gasolina.
O reajuste, acrescentou a fonte, visa dar sinalização positiva aos acionistas com relação à política de paridade de preços de combustíveis da Petrobras ante o mercado externo.
"A gente acompanha sempre os movimentos do petróleo Brent e do dólar, e a gente achou que tinha fazer (um aumento). A discussão se intensificou na semana passada, depois que a alta (da moeda norte-americana) se intensificou e o dólar mostrou que ficaria acima dos 4 reais", disse a fonte da Petrobras.
Ainda de acordo com a fonte, a companhia tem "que dar retorno ao acionista", e isso pesou na decisão sobre o reajuste.
O Conselho de Administração da Petrobras tem cobrado, entre outras coisas, clareza da diretoria executiva da estatal para que as metas de paridade com valores externos sejam cumpridas.
Em meio a discordâncias, o presidente do Conselho, Murilo Ferreira, tirou licença em setembro, condicionando seu retorno a uma mudança de postura da direção em relação a temas que incluem o reajuste de preços, disse uma fonte à Reuters anteriormente.
Com expectativa de maiores receita e Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciação, amortização) pelo aumento dos preços, as ações da Petrobras mantinham no meio do dia a forte alta da abertura, avançando cerca de 7,6 por cento perto das 13h30, enquanto o Ibovespa tinha valorização de 1,3 por cento.
Em relatório, o analista do HSBC Luiz Carvalho disse que a alta dos combustíveis eleva a projeção de Ebitda da companhia no quarto trimestre em 8 por cento, mas em apenas 1,7 por cento no ano completo.
AUMENTO PEQUENO
O reajuste da gasolina, que deverá ter alta de cerca de 4 por cento na bomba e impacto de 0,15 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, segundo o economista da Fundação Getúlio Vargas André Braz, foi visto como insuficiente após anos de perdas da Petrobras na área de Abastecimento por vendas de combustíveis com defasagem em relação ao mercado externo.
Além disso, no caso da gasolina, esse reajuste não cobre os 9 por cento de defasagem estimados na terça-feira pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), por conta da disparada do dólar. Alguns bancos, com base em outra metodologia, dizem que a Petrobras conseguiu zerar a defasagem da gasolina e passará a lucrar com a venda do combustível.
Já o diesel será vendido pela Petrobras com um prêmio ainda maior ante os valores externos. Na terça-feira, o diesel era vendido no Brasil 11 por cento acima do mercado internacional, segundo o Cbie.
"O governo teve bom senso, é um aumento muito pequeno, gera mais receita... Mas para ser excelente para o mercado tinha que ser 10 a 12 por cento, e isso não foi dado", disse o diretor do Cbie, Adriano Pires, lembrando que o governo penalizou muito a Petrobras nos últimos anos, com o controle de preços de combustíveis para evitar inflação, causando perdas desde 2010 de mais de 60 bilhões de reais.
David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da ANP e sócio-diretor da DZ Negócios com Energia, concorda que o "reajuste é pequeno e demorou para vir", com a Petrobras atualmente em uma "situação dramática".
"Eu acho esse reajuste modesto. A gasolina já vinha perdendo (na defasagem) há algum tempo e agora a empresa está correndo atrás. Ameniza a dor do paciente, mas não resolve o problema", comentou.
Alinhar os preços domésticos aos níveis internacionais é importante para as finanças da Petrobras, num momento em que o plano de desinvestimentos, de mais de 15 bilhões de dólares apenas até o fim do próximo ano, está enfrentando dificuldades para decolar, com instituições financeiras reduzindo previsões de produção e avaliando que as métricas de crédito da estatal continuarão a se deteriorar em razão da dívida crescente.
(Reportagem adicional e texto de Roberto Samora)