Por Roberto Samora e Marta Nogueira
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras (SA:PETR4) está preparada para sobreviver ao pior cenário possível e tomou medidas para preservar sua liquidez, diferentemente de outros setores que estão pedindo "privilégios" ao governo, afirmou o presidente da estatal, Roberto Castello Branco, citando que a indústria de etanol está propondo aumento de tributos para a gasolina em tempos de coronavírus.
Segundo executivos da Petrobras, a eventual imposição de um imposto de importação sobre a gasolina ou mesmo um aumento da Cide para o combustível fóssil --este último tema está em análise no governo após pedido da indústria de cana-- poderiam gerar problemas técnicos para a produção de outros derivados de petróleo, como o GLP (gás de cozinha).
Para o CEO da Petrobras, uma eventual redução maior da demanda por gasolina, que poderia ocorrer com eventual oferta de incentivos ao setor de etanol, que também viu uma retração na demanda, geraria risco de desabastecimento de derivados de petróleo.
"A gente tem que olhar para o lado do consumidor", ressaltou Castello Branco, em uma teleconferência com jornalistas nesta sexta-feira, ao lembrar que a empresa produz gasolina na refinaria juntamente com o GLP.
"E uma redução adicional da demanda por gasolina implica em redução da produção de GLP e a necessidade por importação de volumes adicionais de GLP para abastecer o mercado", acrescentou o CEO.
O alerta vem em momento em que maiores importações de gás de cozinha já estão sendo realizadas pela Petrobras para atender à maior demanda da população, que chegou a correr aos revendedores temendo escassez.
Em entrevista à Reuters na quinta-feira, o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Evandro Gussi, disse que o setor pede um aumento na Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) da gasolina, além de redução do PIS/Cofins para o etanol.
Questionado pela Reuters se a Cide da gasolina poderia subir de 10 para 50 centavos por litro, para aumentar a competitividade do etanol, Gussi disse que "esse é um número que o Ministério de Minas e Energia tem estudado".
Além das questões tributárias, o setor de etanol também está pedindo financiamentos por meio de bancos oficiais para manter estoques de cerca de 6 bilhões de litros do biocombustível, o que significaria quase 25% da produção safra 2020/21.
Procurada nesta sexta-feira, a Unica afirmou que não fez qualquer pedido relacionado a tributos para gasolina importada, conforme dito por Castello Branco na teleconferência. O setor sucroenergético avalia que, sem ajuda, pode ter o ano perdido, uma vez que a cana não pode ser deixada nos campos.
Gussi, da Unica, disse ainda na véspera que, se o benefício tributário "temporário" for concedido, isso poderia levar a país a reduzir importações de gasolina, um movimento que tem colaborado para a geração de empregos no exterior.
Dados da agência reguladora ANP citados pela Unica apontam que as importações de gasolina do Brasil cresceram cerca de 60% em 2019 ante 2018, para 4,8 bilhões de litros, e seguiram crescentes no primeiro trimestre de 2020.
No início da semana, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, havia dito que o governo estava analisando os pleitos do setor de cana.
"LOBISTAS"
O presidente da Petrobras, contudo, defendeu nesta sexta-feira que o setor de etanol deve refletir sobre o pedido de imposição de tributos sobre a gasolina.
"O Brasil é um país que tem deficiências de infraestrutura, e nós não estamos seguros como estamos agora de que poderíamos abastecer o mercado com mais essa redução de demanda forçada por lobistas...", destacou Castello Branco.
Questionada, a diretora-executiva de Refino e Gás Natural da Petrobras, Anelise Lara, disse que "a importação de derivados ocorre em um período normal de oferta e demanda de produtos, mas nós não estamos vivendo período normal".
Ela disse também que a companhia não está importando derivados para atender ao mercado interno, com exceção do GLP, que normalmente já é importado.
Ela ressaltou ainda que as refinarias da empresa "estão preparadas para abastecer o mercado interno".
(Por Marta Nogueira e Roberto Samora)