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Por Barani Krishnan
Investing.com--- Os preços do petróleo voltaram para o azul na quinta-feira após dois dias de quedas, mas permaneceram bem abaixo das suas altas recentes em meio a notícias de que o Presidente Joe Biden deseja se encontrar com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, ao fim das contas, numa reviravolta diplomática que poderia a princípio obrigar o principal produtor de petróleo a levar em consideração os pedidos dos EUA por mais abastecimento.
Por volta das 17h11 de quinta-feira, o petróleo WTI, negociado em Nova York, era cotado em alta de 1,91%, a US$ 108,98 por barril.
O benchmark da commodity nos EUA havia caído 4% em dois dias de negociação após um aumento acumulado de 14,5% ao longo dos quatro pregões anteriores, que o levaram até a máxima em sete semanas de US$ 114,90.
O Brent, cotado em Londres e referência global de preço, tinha avanço de 2,04%, a US$ 111,34 por barril. O benchmark global havia perdido 4,5% em dois dias de negociação após subir cerca de 12% nos quatro pregões anteriores, levando-o à máxima em um mês, de US$ 114,79.
A recuperação do petróleo na quinta-feira veio na esteira das esperanças de que o plano de flexibilização das restrições contra a Covid em Xangai poderia melhorar a demanda de combustíveis na China, o maior importador mundial de petróleo.
O consumo e os dados bullish dos estoques de petróleo dos EUA, divulgados pelo governo na quarta-feira, também ajudaram o mercado a encontrar suporte, disseram os comerciantes.
Mesmo assim, o WTI caiu para uma mínima intraday de US$ 103,25 mais cedo, enquanto o Brent tocou um fundo dentro do pregão de US$ 105,72.
Uma razão para isso foi a incerteza contínua sobre se a Europa chegaria a um consenso enquanto bloco para proibir o petróleo russo, como validação da desaprovação europeia quanto à guerra de Moscou na Ucrânia.
O outro motivo foi a divulgação feita pela CNN de que autoridades dos EUA estavam trabalhando para agendar um encontro presencial, provavelmente em Riade, entre Biden e o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, durante a próxima viagem internacional do presidente.
A princípio, enquanto os aliados de longa data em tudo, desde segurança energética à paz na Península Arábica, os líderes dos EUA e da Arábia Saudita não deveriam ter nenhuma dificuldade em se encontrar a qualquer momento, como exemplificado pelo antecessor de Biden, Donald Trump, que alguns afirmavam ter uma relação "íntima demais" com Salman.
O problema é a relação cáustica entre Biden e o príncipe herdeiro, a quem o presidente já chamou de "pária". Isso aconteceu após o assassinato de Jamal Khashoggi, em 2018, o jornalista nascido na Arábia Saudita e residente dos EUA que CIA afirma ter sido executado por ordem de Salman, devido às suas críticas ao príncipe herdeiro.
No início deste ano, Salman, muitas vezes chamado pelas suas iniciais MbS, recusou-se a receber telefonemas de Biden. A mídia afirma que o príncipe herdeiro saudita, famoso pelas explosões de temperamento, normalmente tem rompantes quando é feita qualquer tentativa de vinculá-lo ao assassinato de Khashoggi. Não se sabe se Biden conseguirá deixar o assassinato do jornalista saudita residente nos EUA fora das conversas com o príncipe herdeiro.
Uma melhoria na relação entre os dois pode alterar a dinâmica do mercado de petróleo, atualmente pressionado no lado da oferta, caso a Arábia Saudita, que possui a capacidade para produzir mais, decidir atender aos pedidos de longa data dos EUA por mais barris.
"É cedo demais para se fazer qualquer tipo de especulação sobre aonde esta coisa poderia chegar, sendo que as duas partes precisam, primeiro, concordar em se reunir; depois disso, o momento em que isso ocorreria, exatamente; como a coisa toda se desdobraria, e se os sauditas estão dispostos a colocar um limite nos aumentos de preços, liberando mais barris para o mercado", afirmou John Kilduff, sócio do fundo de hedge energético Again Capital, de Nova York.
"Mas, enquanto traders, sempre buscamos antecipar qualquer evento do mercado, e isto, se vier a se concretizar, pode facilmente significar cerca de US$ 10 a menos no preço fixo do petróleo bruto, com todas as outras variáveis permanecendo constantes", acrescentou Kilduff, que tem uma previsão de US$ 95 para o WTI nas próximas semanas em virtude dos sinais de que a produção dos EUA estava aumentando, a fim de atender a atual restrição da oferta e o pico projetado de demanda por petróleo no verão do hemisfério norte.
Há mais de um ano, a Arábia Saudita, que lidera a OPEP+, aliança de 23 países exportadores de petróleo, vem garantindo que os países do grupo forneçam menos petróleo que o necessário para manter preços ideais por barril.
A OPEP+, grupo de 23 membros que compreende os 13 países originais da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, liderada por Riade, além de 10 outros países, capitaneados pela Rússia, tem se mantido fiel a aumentos mensais de pouco mais de 430.000 barris por dia. Isso fica claramente aquém da procura, que é pelo menos 3 milhões de barris mais alta, como consequência direta das sanções do Ocidente à Rússia que deslegitimaram um número igual de barris antes disponível no mercado.
Enquanto isso, os Estados Unidos estão atravessando uma limitação severa na oferta de gasolina e, especialmente, do diesel desde o fechamento e redução do porte de várias refinarias durante a pandemia do coronavírus.
As refinarias que continuaram no ramo estão agora fornecendo só o que podem - ou, mais exatamente, o que querem - sem colocar nenhum centavo na expansão da sua capacidade atual ou na aquisição de instalações ociosas que podem ser reabertas a fim de proporcionar algum alívio mensurável aos consumidores. Uma motivação para a ação das refinarias: os lucros recordes da situação atual que podem ser diluídos em uma expansão. Outra motivação é o longo tempo até qualquer nova refinaria começar a gerar lucro.
A Bloomberg estima que mais de 1 milhão de barris por dia em capacidade de refino de petróleo dos EUA — ou cerca de 5% da capacidade — fechou desde que o surto da Covid-19 dizimou a demanda por petróleo em 2020. Fora dos Estados Unidos, a capacidade encolheu mais 2,13 milhões de barris por dia, segundo a consultoria energética Turner, Mason & Co. O resumo da ópera é: Sem planos de expansão no horizonte, o aperto só vai piorar.
Na semana passada, o Ministro da Energia saudita, Abdulaziz bin Salman, minimizou qualquer relação entre os preços recordes dos combustíveis nos Estados Unidos e as ações da OPEP+, dizendo que a culpa era da falta de refinarias.
"Não há capacidade de refino proporcional à demanda atual e à expectativa de procura no verão [do hemisfério norte]", afirmou o ministro da energia e meio-irmão do príncipe herdeiro saudita.
O ministro do petróleo do Bahrein, Sheikh Mohammed Bin Khalifa Bin Ahmed, fez uma observação semelhante à do seu homólogo saudita. "Não há nova capacidade [de refino] disponível", afirmou o Sheikh Mohammed. "Mesmo que se produza mais petróleo, não há demanda por isso, não há mais refinarias".