Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A área plantada com soja na safra 2018/19 no Brasil deverá crescer de 3 a 5 por cento, dependendo de como o maior exportador global da oleaginosa vai se beneficiar da disputa comercial entre Estados Unidos e China, na avaliação de executivo da Corteva, uma das maiores companhias de insumos agrícolas que atuam no país.
Ainda que os preços na principal bolsa de contratos futuros, em Chicago, tenham despencado para mínimas de cerca de dez anos em meados deste mês, os prêmios pagos pelo produto brasileiro estão compensando essas quedas, garantindo boa rentabilidade ao produtor nacional, o que é um incentivo para o plantio que começa em setembro.
"O mercado de soja deve crescer, (o quanto) vai depender da discussão (dos EUA) com a China", afirmou nesta segunda-feira Roberto Hun, presidente no Brasil e Paraguai da Corteva Agriscience, divisão agrícola da DowDuPont.
A se confirmar o aumento de área previsto por Hun, o Brasil poderia plantar em 2018/19 um recorde de cerca de 37 milhões de hectares, ante 35,15 milhões projetados pelo governo para 2017/18.
A China aplica tarifas de 25 por cento a produtos dos EUA, incluindo a soja, desde 6 de julho. Os norte-americanos, ao lado dos brasileiros, tradicionalmente dominam os embarques da oleaginosa para o maior comprador global.
Especialistas dizem que o Brasil, ainda que seja líder nas vendas à China, não conseguiria atender sozinho à demanda chinesa, mas o aumento de área esperado sinaliza que os brasileiros visam ao menos elevar sua participação no mercado.
Produtos para proteção da lavoura de soja contra pragas e doenças respondem pela maior parte do faturamento do setor de defensivos no Brasil, um dos maiores mercados globais para tais insumos agrícolas do mundo.
Fortalecida pela fusão das operações da Dow e Dupont, assim como pelas sinergias obtidas na transação, a Corteva espera ocupar uma posição de liderança no Brasil nos próximos anos. Atualmente, a empresa está entre os três maiores, disse Hun, em entrevista a jornalistas durante o Global Agribusiness Forum 2018, evento do setor realizado em São Paulo.
A América Latina representa 21 por cento dos cerca de 15 bilhões de dólares anuais em vendas da Corteva, enquanto o Brasil responde pela maior parte do faturamento na região.
Entre sementes e produtos de proteção de cultivos, o mercado total do Brasil e do Paraguai gira em torno de 15 bilhões de dólares, nas contas da Corteva.
MILHO
Hun disse ainda que a área de milho no verão no Brasil, que concorre com a soja por espaço, deverá cair na próxima safra, uma vez que a oleaginosa tem sido mais atraente aos produtores.
Por outro lado, ele disse que haverá uma recuperação na safra de milho de inverno, conhecida como "safrinha", mas que nos últimos anos vem respondendo pela maior parte do cereal brasileiro.
Na soma total, entre milho verão e inverno, o executivo da Corteva espera um leve crescimento no plantio do cereal em 2018/19, com um aumento na "safrinha" mais do que compensando a queda na primeira safra.
Ele ressaltou que o avanço tecnológico, com variedades de ciclo mais curto de soja e milho, permitiu que o Brasil produzisse mais cereal no inverno, o que ajudou a alçar o país à segunda posição na exportação global do grão, atrás dos Estados Unidos.
IMPACTO DOS FRETES
Questionado sobre potenciais problemas gerados para o setor agrícola pelo tabelamento do frete rodoviário, instituído pelo governo após a paralisação histórica dos caminhoneiros em maio, o executivo disse que as vendas da Corteva não foram afetadas.
Ao contrário, ele afirmou que houve uma antecipação de negócios, com produtores buscando fechar suas compras de insumos, para ter proteção contra volatilidade do dólar, por exemplo.
"Em termos de ordens e pedidos, não temos grande mudanças de patamar. Pelo câmbio, os produtores procuraram até antecipar os negócios para evitar menos exposição a tais variáveis", disse Hun.
(Por Roberto Samora; Edição de Luciano Costa)