Por Andrew Osborn
MOSCOU (Reuters) - O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira a líderes africanos que vai presenteá-los com dezenas de milhares de toneladas de grãos em alguns meses, apesar das sanções ocidentais que, segundo ele, tornaram mais difícil para Moscou exportar seus grãos e fertilizantes.
Falando em uma cúpula em São Petersburgo dedicada aos laços russo-africanos, Putin disse que a Rússia espera uma safra recorde de grãos este ano e está pronta para substituir as exportações ucranianas de grãos para a África tanto com base comercial quanto de ajuda e honrar o que ele afirmou ser papel vital de Moscou na segurança alimentar global.
"Estaremos prontos para fornecer a Burkina Faso, Zimbábue, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia 25-50.000 toneladas de grãos grátis cada nos próximos 3-4 meses", disse Putin na cúpula, cujos participantes reagiram com aplausos.
"Também forneceremos entrega gratuita desses produtos aos consumidores."
O evento, que deve ter vários acordos assinados, ocorre após a primeira cúpula Rússia-África em 2019 e faz parte de um esforço concentrado por influência e negócios em um continente onde mercenários do grupo russo Wagner permanecem ativos, apesar de um motim abortado na Rússia no mês passado.
Respondendo às críticas ocidentais à decisão da Rússia de abandonar o acordo de grãos do Mar Negro na semana passada, um acordo que permitia à Ucrânia exportar seus grãos com segurança, Putin reiterou que Moscou saiu porque as promessas feitas sobre facilitar suas próprias exportações de grãos e fertilizantes tinham sido ignoradas.
Alguns políticos ocidentais disseram que a saída da Rússia é irresponsável e resultará no sofrimento de milhões de pessoas em países pobres.
Mas Putin disse na cúpula que mais de 70% dos grãos ucranianos exportados graças ao acordo foram para países de renda alta ou acima da média, incluindo União Europeia, e que países pobres como o Sudão foram prejudicados e receberam menos de 3% das remessas.
Ele declarou que as sanções ocidentais, impostas devido à guerra da Rússia na Ucrânia, que chama de "operação militar especial", impediram até mesmo a Rússia de fornecer fertilizantes gratuitos para nações pobres.
"Está surgindo um quadro paradoxal. Por um lado, os países ocidentais estão obstruindo o fornecimento de nossos grãos e fertilizantes (via sanções), enquanto, por outro lado, eles nos culpam hipocritamente pela atual situação de crise no mercado mundial de alimentos", disse Putin.
A Rússia diz que 49 dos 54 Estados do continente estão representados na cúpula de São Petersburgo, incluindo 17 por seus chefes de Estado e quatro por chefes de governo.