Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O volume de petróleo refinado no Brasil caiu em 2015 ante o ano anterior pela primeira vez desde a crise internacional de 2008, informou nesta terça-feira a agência reguladora do setor de petróleo (ANP), enquanto o país sofre sua maior recessão econômica em décadas, com reflexo na demanda por combustíveis.
O país processou 724 milhões de barris no ano passado, uma queda de 5,8 por cento em relação a 2014, apesar da Petrobras (SA:PETR4) ter iniciado a operação de uma refinaria construída por ela no fim de 2014, o que não ocorria há 34 anos.
Com isso, a produção de derivados de petróleo no Brasil também teve sua primeira queda anual desde 2008, com retração de 6,3 por cento ante 2014, totalizando 745 milhões de barris.
O cenário de 2015 mostrou mudança em relação aos anos anteriores, quando a Petrobras operava seu parque de refino com capacidade máxima, diante de um aumento do consumo de derivados.
A entrada da nova refinaria da Petrobras em Pernambuco, chamada Rnest e também conhecida como Abreu e Lima, entre novembro e dezembro de 2014, contribuiu com uma menor dependência externa principalmente de diesel, seu principal produto, mas não se refletiu no aumento do processamento de petróleo no país.
A Rnest tem capacidade para processar 115 mil barris de petróleo por dia (bpd), mas apenas esteve liberada ao longo do ano para refinar 74 mil bpd, já que não terminou a construção de um equipamento de mitigação de emissão de gases.
No ano, a Rnest processou 23,11 milhões de barris. Em dezembro, o volume total foi de 2,28 milhões de barris, ou o equivalente a 73,7 mil bpd.
O processamento da Refinaria de Paulínia (Replan), a maior do país, caiu 4,6 por cento no acumulado de 2015 ante o ano anterior, para 144 milhões de barris. Em dezembro, a unidade que tem capacidade para processar 415 mil bpd refinou 361 mil bpd.
Além da recessão econômica, o parque de refino da Petrobras também sofreu impactos da greve dos funcionários da companhia em novembro, que atingiu grande parte de suas unidades.
No início deste mês, duas fontes e um sindicato de petroleiros informaram à Reuters que um atraso no retorno à atividade da Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em Cubatão, São Paulo, após a greve, além de uma atividade de manutenção, teriam causado falta de combustíveis no Nordeste.
Os dados da ANP mostram que apesar da refinaria ter registrado aumento expressivo de 20 por cento do processamento de petróleo em dezembro ante o mês anterior, o volume de petróleo refinado não alcançou os níveis pré-greve.
Em dezembro, a RPBC processou 105,2 mil bpd, ante 90,5 mil bpd em novembro e 156 mil bpd em outubro. A refinaria de Cubatão tem capacidade para processar 178 mil bpd.
O sindicato das distribuidoras de combustíveis (Sindicom), que representa cerca de 80 por cento do volume de distribuição de combustíveis e lubrificantes no Brasil, publicou na semana passada uma queda das vendas de combustíveis de 3,4 por cento em 2015, primeiro recuo ante o ano anterior desde 2005.
Na avaliação do Sindicom, a queda das vendas pode ser explicada pela menor atividade econômica e pela redução do consumo das famílias. A ANP, que considera todo o mercado, ainda não publicou seus dados de vendas de combustíveis em 2015.