Por Gustavo Bonato e Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A safra de soja 2014/15 do Brasil, a ser colhida no início do próximo ano, deverá atingir históricas 93,9 milhões de toneladas em condições normais de clima, segundo a mediana de uma pesquisa da Reuters com analistas, corretores e instituições, realizada um dia antes da divulgação da primeira estimativa oficial do país.
Isso representa um crescimento de 9 por cento ante 2013/14, apagando o recorde da última temporada de 86,12 milhões de toneladas, quando uma severa seca limitou o potencial produtivo, especialmente no Paraná, o segundo produtor nacional, São Paulo e Minas Gerais.
O crescimento de área plantada com soja --com produtores apostando que a oleaginosa ainda garantirá alguma rentabilidade num cenário de preços baixos em função da grande oferta global-- deverá levar o plantio para recorde acima de 31 milhões de hectares, um aumento de aproximadamente 5 por cento sobre 13/14.
A Companhia Nacional de Abastecimento divulga sua primeira estimativa de safra de grãos para a temporada 14/15 na manhã de quinta-feira, num momento em que o plantio de soja está praticamente paralisado no Centro-Oeste brasileiro, a principal região produtora do país, por conta da recente escassez de chuva e pela previsão de ausência de precipitações nos próximos dias.
Mas, por ora, isso não altera em nada as projeções de safra recorde do Brasil, segundo produtor global atrás dos EUA, de acordo com especialistas.
"Está tudo atrasado, em 10 de outubro não vamos ter 10 por cento plantado no Brasil. Isso representa um atraso, mas ainda temos tempo", afirmou o analista da AgRural Fernando Muraro, para quem essa demora no plantio da soja poderá ter algum impacto para aqueles que pretendiam fazer uma segunda safra, especialmente no Centro-Oeste.
Com chuvas previstas para o final do mês, o atraso no plantio seria recuperado, e as produtividades não seriam afetadas.
"A previsão (climática) é muito ruim neste momento. Mas voltando a chover no final de outubro, não tem problema", disse Muraro, acrescentando que alguns agricultores que já plantaram em Mato Grosso (principal Estado produtor do país) eventualmente terão de replantar sua soja, por conta do tempo seco.
O analista da corretora Cerealpar, Steve Cachia, observou que a área plantada com soja cresce, apesar dos preços baixos na bolsa de Chicago, porque o produto está mais rentável que o milho, que disputa terras com a oleaginosa em algumas regiões --a commodity atingiu mínimas de mais de quatro anos recentemente.
Além disso, disse ele, a soja tem bastante liquidez para comercialização e ainda pode haver alguma surpresa nos preços com algum fator novo, apesar da grande oferta global, com os Estados Unidos colhendo uma safra recorde.
"Na soja ainda tem a expectativa de que o mercado internacional possa vir a reagir... Tem o período de colheita nos EUA, que vai manter os preços pressionados, e depois vamos sentir, talvez com especulação do clima na América do Sul... com alguma notícia boa da China, comprando mais", afirmou o analista.