Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A safra de soja do Brasil 2024/25 foi estimada nesta quinta-feira em recorde de 172,2 milhões de toneladas, alta de 10,74% na comparação com o ciclo anterior, quando as produtividades foram afetadas por problemas climáticos, apontou a Agroconsult.
A consultoria estimou a área plantada em 47,5 milhões de hectares, alta de 1,5% na comparação com a temporada passada, segundo apresentação feita durante evento da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
De acordo com o presidente da Agroconsult, André Pessôa, alguns problemas de falta de chuva no momento no Brasil estão localizados em áreas com muito menos soja do que nos lugares onde a safra está indo muito bem, o que ajuda a explicar a expectativa para a colheita do maior produtor e exportador global da oleaginosa.
"O viés (da estimativa) é de alta", afirmou Pessôa durante o evento, citando que as condições estão "excelentes" em Mato Grosso e Goiás, enquanto algumas poucas áreas ao sul tiveram menos precipitações.
"É um ano mais tranquilo, ano passado já estávamos preocupados com o Brasil central... parece que vem uma safra muito boa de soja", acrescentou ele, observando que o plantio iniciado entre setembro e outubro está sendo encerrado dentro do calendário favorável, inclusive para se realizar a segunda safra de milho e algodão.
Caso a estimativa se confirme, o Brasil superaria o recorde anterior, de 162,4 milhões de toneladas, registrado em 2022/23.
A previsão da Agroconsult se compara a uma safra de soja estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 166,14 milhões de toneladas.
Pessôa lembrou que nesta época, no ano passado, o Mato Grosso, maior produtor de soja do país, tinha uma condição de falta de chuva.
Ele alertou que, após um atraso inicial, a safra foi plantada durante um período muito concentrado em Estados como o Mato Grosso, o que pode gerar problemas de infraestrutura e logística, no caso de dias seguidos de chuvas na época da colheita.
A Agroconsult estima as exportações de soja do Brasil em uma máxima histórica de 103,4 milhões de toneladas em 2025, ante 98,2 milhões previstos para 2024. O volume previsto superaria as 102,8 milhões de toneladas de 2023.
RECORDE NA SEGUNDA SAFRA
Com o bom desenvolvimento do plantio de soja, a Agroconsult aposta em uma área recorde para o milho na segunda safra, semeado após a colheita da oleaginosa.
Isso deverá favorecer uma produção de 132,7 milhões de toneladas de milho (primeira e segunda safras), ante 128,2 milhões esperados para o ciclo anterior, ainda abaixo do recorde de 141,8 milhões da safra 2022/23.
No total, o milho deverá contar com uma área de cerca de 22 milhões de hectares em 2024/25, ante 21,6 milhões de hectares na temporada anterior.
Apenas na segunda safra, responderá por 17,8 milhões de hectares, avanço de 5% na comparação com o ciclo 2023/24, superando também os 17,5 milhões de 2022/23.
"A área plantada de milho safrinha (segunda safra) deve crescer não só pela janela de plantio, mas o preço subiu, uma parte disso se deve ao câmbio", avaliou o presidente da Agroconsult.
Esse novo recorde na área de segunda safra acontecerá sem que "isso se dê em detrimento da área de sorgo, que cresceu muito nos últimos anos", afirmou.
Ele atribuiu a força do milho também à instalação de novas usinas de etanol feito a partir do cereal.
A exportação de milho do Brasil, um dos maiores exportadores globais, foi estimada em 42 milhões de toneladas em 24/25, recuperando-se ante as 38,5 milhões do ciclo 23/24, mas abaixo do recorde de 54,6 milhões de 22/23.
NOVO RECORDE DO ALGODÃO
No algodão, que tem o Brasil como maior exportador mundial, o país poderá ultrapassar pela primeira vez as 4 milhões de toneladas produzidas.
A produção está projetada em 4,09 milhões de toneladas da pluma no ciclo 2024/25, avançando na comparação com as 3,64 milhões da safra anterior, o gera preocupação com estoques excessivos e com a logística de exportação.
"A questão é onde colocar tanto algodão...", afirmou Pessôa.
Ele ponderou, contudo, que há espaço no mercado internacional para ser ocupado, enquanto os Estados Unidos vêm de frustrações de safra, abrindo oportunidades para os brasileiros.