LONDRES/NOVA YORK (Reuters) - A Arábia Saudita está discretamente avisando para agentes do mercado que está confortável com preços notadamente menores do petróleo por um período prolongado, em uma mudança drástica de política que pode ter o objetivo de desacelerar a expansão de produtores rivais, incluindo os que operam na região do shale gas (gás não convencional) nos Estados Unidos e em águas ultraprofundas.
Alguns membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), incluindo a Venezuela, estão pedindo por um corte urgente na produção que possa elevar os preços globais da commodity novamente para acima de 100 dólares por barril.
No entanto, executivos da Arábia Saudita passaram recentemente uma mensagem diferente em encontros privados com investidores do mercado de petróleo e analistas: o país, maior produtor da Opep, está disposto a aceitar preços abaixo de 90 dólares, e talvez abaixo de 80 dólares, por até um ano ou dois, segundo fontes que foram informadas em conversas recentes.
As discussões, algumas das quais ocorreram em Nova York na semana passada, dão o sinal mais claro até agora de que a Arábia Saudita está abandonando uma longa estratégia de manter os preços do petróleo Brent perto de 100 dólares por barril, para assim manter fatia de mercado nos próximos anos.
Os sauditas agora parecem estar apostando que um período de preços mais baixos --que poderia apertar o caixa de muitos países membros da Opep-- será necessário para abrir caminho para um lucro maior no médio prazo, ao desestimular novos investimentos no setor e novos aumentos na oferta de origens como a região do shale nos Estado Unidos, ou petróleo de águas ultraprofundas, segundo as fontes, que pediram para não serem identificadas devido à natureza privada das conversas.
A região do pré-sal, na costa do Brasil, é um bom exemplo de exploração em águas ultraprofundas. A Petrobras, já extrai cerca de um quarto de seu petróleo abaixo da camada de sal, no fundo do oceano. Nos próximos anos, a produção neste tipo de formação geológica deve aumentar ainda mais, com a entrada em operação de áreas como a de Libra, leiloada pelo governo federal no ano passado por 15 bilhões de reais.
As discussões com autoridades sauditas não trouxe qualquer indicação se o país concordaria com um corte de produção, e de que tamanho seria esse corte. Muitos analistas têm esperado uma redução na oferta para firmar um mercado que está produzindo bem mais petróleo do que pode consumir.
A Arábia Saudita produz cerca de um terço de todo o petróleo da Opep, ou cerca de 9,7 milhões de barris por dia.
Ao ser questionado sobre futuros cortes de produção, uma autoridade saudita respondeu "Que cortes?", segundo uma das fontes.
Também não ficou claro se as conversas promovidas pelos sauditas com observadores do mercado de petróleo representam um plano ao qual o país está comprometido, ou se são apenas argumentos destinados a pressionar outros membros da Opep a unirem-se à Riad em um eventual aperto na oferta mundial da commodity.
Uma fonte não envolvida diretamente nas conversas disse que a Arábia Saudita não necessariamente quer uma queda maior nos preços, mas não está disposta a realizar sozinha os cortes de produção, estando preparada para tolerar preços menores até que outros membros da Opep comprometam-se com alguma ação.
Com boa parte dos membros do cartel impossibilitados ou relutantes em reduzir seus volumes de produção, a próxima reunião do grupo marcada para 27 de novembro deverá ser a mais difícil em anos.
A Opep concordou em reduzir a produção apenas algumas poucas vezes na última década, mais recentemente na esteira da crise financeira de 2008.
Nesta segunda-feira, o barril do petróleo Brent tocou a mínima de 87,74 dólares por barril, menor patamar em quase quatro anos.
(Por Ron Bousso e Joshua Schneyer)