Por Marcelo Teixeira
SÃO PAULO (Reuters) - Produtores brasileiros de açúcar e etanol disseram nesta segunda-feira que as perspectivas para o setor estão gradualmente melhorando e que as indicações para a temporada do ano que vem podem incluir o direcionamento de mais cana para o adoçante.
Os produtores participando da conferência internacional de açúcar da Datagro em São Paulo disseram que o recente rali dos preços na ICE poderia ajudar a dar continuidade às vendas da commodity, o que por sua vez pode levar as usinas a destinar mais cana para a produção do adoçante do que foi feito neste ano, e menos para o etanol.
Eles também pensam que o novo governo de direita do Brasil, que está prometendo adotar políticas amigáveis ao mercado, eventualmente levaria a um maior consumo de combustível, sustentando a demanda de etanol e forçando os consumidores mundiais de açúcar a pagar mais pelo adoçante brasileiro.
"Eu acho que as usinas têm a oportunidade de fazer hedge para uma parte do açúcar agora e evitar apostar muito altas no etanol no ano que vem, uma vez que o produto sempre está sujeito aos preços do petróleo e políticas públicas", disse Gabriel Feres Junqueira, presidente-executivo da usina Bioenergética Aroeira, à Reuters.
"Considerando a taxa de câmbio e os futuros em Nova York no momento, elas poderiam fixar um preço de 1.250 reais por tonelada de açúcar para a próxima temporada, que é um valor razoável", ele disse.
A sua empresa decidiu não produzir açúcar neste ano, alocando 100 por cento da cana para a produção de etanol, disse Junqueira.
A Bioenergética Aroeira foi uma das 17 usinas do centro-sul do Brasil que focaram totalmente na produção do biocombustível.
Em média, a região centro-sul está destinando 67 por cento cana para a produção de etanol e apenas 33 por cento para o açúcar no atual ciclo.
"O pior já passou, o panorama é construtivo", disse Mariangela Grol, diretora de inteligência de mercado da Raízen, a maior produtora de açúcar do mundo.
Ela prevê que os preços do açúcar podem chegar a 16 centavos de dólar por libra-peso se a oferta global encolher, devido a dificuldades na produção em alguns países, e com compradores se voltando novamente ao Brasil.
Mario Lorencatto, presidente-executivo da Coruripe, uma das dez maiores companhias de açúcar e etanol do Brasil, disse que a empresa já conseguiu garantir vendas antecipadas lucrativas, combinando os futuros da ICE com contratos do tipo NDF (Non-Deliverable Forward), em moeda local. O arranjo foi lucrativo, ele disse.
"É bem possível que seja considerada uma maior produção de açúcar no Brasil na próxima temporada com esse níveis de preço", disse Jeremy Austin, diretor no Brasil da trading de açúcar Sucden, em apresentação durante a conferência.
(Por Marcelo Teixeira)