Por Luciano Costa e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A intenção da estatal federal Eletrobras (SA:ELET3) de vender a distribuidora de energia Celg, que atende o Estado de Goiás, tem chamado a atenção do mercado, mas os primeiros valores especulados para a operação foram considerados elevados por Equatorial Energia (SA:EQTL3) e CPFL, duas das maiores interessadas.
A Eletrobras espera arrecadar até 5 bilhões de reais no negócio, disse à Reuters uma fonte próxima das negociações no final de outubro.
"A Equatorial tem interesse e está de olho... estuda entrar sozinha ou em parceria, desde que os valores sejam ajustados. Considera muito alto (os 5 bilhões) dado o valor do ativo e outras incertezas operacionais", disse à Reuters uma outra fonte com conhecimento direto do assunto, na condição de anonimato.
Após a publicação da reportagem da Reuters sobre o valor de 5 bilhões de reais, a estatal informou em comunicado ao mercado que ainda "não existe expectativa" sobre o valor da companhia, na qual é majoritária e tem como sócio o governo de Goiás.
Na teleconferência de resultados do terceiro trimestre, realizada na última semana, o diretor financeiro da Equatorial, Eduardo Haiama, ressaltou que a empresa vai "pra cima" e deve entrar "forte" no leilão da distribuidora. Haiama não comentou sobre valores.
Já o presidente da CPFL Energia (SA:CPFE3), Wilson Ferreira Jr, disse na semana passada que 5 bilhões de reais representa um montante elevado, ainda que empresa colocada à venda seja um bom ativo.
"Parece caro... é só você olhar quanto vale uma Eletropaulo na bolsa, uma Light (SA:LIGT3), e são empresas muito maiores que a Celg", disse Ferreira, ressaltando, no entanto, que a distribuidora "é um belo ativo".
"Para quem está investindo e olha tamanho, perspectiva de crescimento e de melhora de performance, é uma bela empresa", apontou Ferreira.
Ele destacou que o governo federal precisa calibrar o preço do negócio, até devido ao atual ambiente do país.
"(Senão) você faz um leilão e não aparece ninguém... o preço é uma decorrência do ativo e das condições em que ele é vendido, do nível de confiança regulatória e segurança jurídica".
A Eletropaulo apresentou valor de mercado de 1,67 bilhão de reais no balanço do terceiro trimestre.
O sócio-diretor da LMDM Consultoria, Diogo Mac de Faria, também disse à Reuters que, se o preço de 5 bilhões de reais for levado adiante, poderá haver um certame vazio.
"Já estão precificando a Celg como se ela fosse administrada por uma empresa privada e eficiente, tentando absorver 'à vista' todo o potencial de geração de caixa da empresa. Assim, o negócio não é atraente a ninguém."
Em relatório a clientes no final de setembro, o banco suíço UBS disse que vê "forte apetite" pela privatização da Celg.
"Vemos diversos players potencialmente interessados em fazer propostas pela Celg-D, incluindo CPFL Energia, Equatorial, Neoenergia, Energisa (SA:ENGI4), (a italiana) Enel (MI:ENEI) e outros estrangeiros com um forte balanço que podem ver na recente desvalorização do real um atrativo para se expandir no Brasil".
No documento, o UBS destaca que a base de ativos regulatórios da Celg envolve de entre 1,5 bilhão a 2 bilhões de reais.
"Recentes negócios de fusões e aquisições foram feitos por entre 1,3 vezes a 2,3 vezes essa base, e o valor das distribuidoras que cobrimos está entre 0,5 vez e 2 vezes a base de ativos regulatórios", disse o banco.