Por Maximilian Heath
BUENOS AIRES (Reuters) - Os agricultores argentinos venderam até agora menos da metade da soja que negociavam na versão anterior do plano oficial de incentivo conhecido como "dólar da soja" devido ao impacto de uma seca, disse um analista da Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) nesta sexta-feira.
O governo argentino implementou o "dólar soja" com a intenção de acelerar a entrada de dólares das exportações do complexo soja para evitar maior esgotamento de suas limitadas reservas cambiais, em um delicado contexto financeiro com inflação acima de 100% ao ano.
Segundo a BCR, nos primeiros quatro dias do atual programa de aumento das exportações (PIE, na sigla em espanhol), que desde segunda-feira até o final de maio oferece uma taxa de câmbio de 300 pesos por dólar para as vendas de soja --contra 215 pesos para o câmbio oficial--, foram comercializadas 441.747 toneladas da oleaginosa.
O número está bem abaixo dos registrados nos quatro primeiros dias dos dois PIEs anteriores, em 2022. No primeiro, em setembro, esse volume foi de 3,1 milhões de toneladas; na segunda, do final de novembro ao final de 2022, as vendas somaram 1,1 milhão de toneladas.
“Este último programa nos encontra em uma situação muito diferente (dos anteriores): as produtividades são as piores em 25 anos, a área perdida é recorde, há muitas perdas na produção que geram uma disponibilidade de soja muito abaixo do normal", disse Emilce Terré, chefe de estudos econômicos da BCR, à Reuters.
Terré explicou que no atual plano “dólar soja” está sendo negociada a produção para a safra 2022/23, que devido ao impacto da pior estiagem em décadas seria de 23 milhões de toneladas. Nos dois PIEs anteriores, foi comercializada a soja 2021/22, cuja safra foi de 42,2 milhões de toneladas para a BCR.
"Viemos de uma situação em que a indústria exportadora trabalha com margens muito negativas, então do lado da demanda os números não chegam perto de oferecer preços mais altos", explicou.
Segundo relatório divulgado na sexta-feira pela BCR, a indústria argentina processadora de soja, maior exportadora mundial de óleo e farelo de soja, moeria 27,5 milhões de toneladas de soja na safra 22/23, o menor volume dos últimos 19 anos.