Por Cassandra Garrison e Tom Arnold e Adam Jourdan
BUENOS AIRES/LONDRES (Reuters) - A pandemia global de coronavírus está ameaçando transtornar as tensas negociações de reestruturação da dívida da Argentina com seus credores, o que aumenta o risco de o país dar um calote e sofrer um rebaixamento, disseram uma agência de avaliação de crédito e portadores de títulos à Reuters.
Os líderes da nação sul-americana dizem que não conseguem continuar pagando suas dívidas sem reformular quase 70 bilhões de dólares em títulos em moeda estrangeira e quase 45 bilhões de dólares devidos ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para adiar os reembolsos.
Mas um cronograma para fazer uma proposta aos credores em meados de março e firmar um acordo até o final do mês foi inviabilizado em grande parte pela pandemia de coronavírus, que já matou mais de 36 mil pessoas e provocou o fechamento de fronteiras em todo o mundo.
Isso poderia ter um efeito cascata com a chegada da data dos pagamentos. Neste ano, a Argentina enfrenta quase 22 bilhões de dólares em pagamentos de títulos, promissórias e empréstimos, inclusive ao FMI, em moeda estrangeira.
"Acho que agora existe um risco maior de a Argentina tomar a decisão de parar de pagar sua dívida externa", opinou Todd Martinez, diretor de títulos soberanos latino-americanos da Fitch Ratings com foco no Cone Sul.
"Porque, por todo tipo de razões, as negociações tomarão bem mais tempo do que se previu originalmente, em grande parte devido à crise do coronavírus."
A Fitch, que avalia a dívida soberana argentina como "CC", rebaixaria esta para "RD (SA:RADL3)" (calote restrito) se um pagamento não fosse feito ou para "C" durante um período de carência de um pagamento.
Isso poderia se tornar mais provável se as conversas para se chegar a um acordo fossem suspensas pela pandemia, que levou a Argentina a fechar suas fronteiras e impor uma quarentena obrigatória até meados de abril.
"Vai ser preciso algumas negociações duras para se chegar a um acordo que cubra um universo de investidores suficiente, e isso é particularmente complicado, dado o surto de coronavírus", disse um portador de títulos argentino que cancelou uma viagem ao país por causa do vírus.
"Finalizar um acordo com portadores de títulos antes do final deste mês é algo que nunca acontecerá. Será difícil conseguir um acordo para 75% dos portadores de títulos. Um cronograma de seis meses a partir de agora é mais realista".
O Ministro da Economia não quis comentar. Uma pessoa a par dos planos do governo disse que, embora o cronograma tenha sido prejudicado pelo vírus, o atraso não deveria ser muito significativo e uma espera de seis meses "não é nem remotamente realista".