Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - As declarações da infectologista Luana Araújo à CPI da Covid do Senado mostram de forma "cristalina" a falta de autonomia do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e da pasta no estabelecimento de políticas públicas para o enfrentamento da pandemia de coronavírus.
Essa avaliação consta de uma síntese do depoimento da médica feita pela equipe do relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), e obtido pela Reuters.
Convidada por Queiroga para ocupar uma secretaria especial de combate à Covid-19, Luana Araújo disse que deixou o cargo depois de apenas 10 dias porque não foi aprovada pelo Palácio do Planalto. [L2N2NK18F]
A infectologista se disse contrária ao uso de cloroquina no tratamento de Covid, chegando a dizer que a droga aumenta a mortalidade dos pacientes.
"O depoimento ajuda a compreender a insistência do governo em priorizar a utilização do medicamento, mesmo contra posições científicas, dando espaço, somente, aos profissionais que defendiam a cloroquina como política pública", disse o texto da síntese.
"Ficou cristalina, mais uma vez, a falta de autonomia do Ministério e do ministro da Saúde, tanto na formação de suas equipes, quanto no estabelecimento de políticas públicas de saúde", reforçou.
Em seu depoimento, Luana destacou que tratamento precoce não existe para Covid, que jamais cogitou adotar esse tipo de abordagem e tampouco discutiu essa questão com o ministro da Saúde. Para ela, numa pandemia não deve haver experimentação de técnicas e medicamentos.
"As declarações demonstram que a médica ficou isolada em relação ao tratamento precoce e ao uso da cloroquina", destacou a análise feita pela equipe de Renan.
O documento citou ainda ter ficado evidente que a médica teve dificuldades de montar a sua equipe e consolidar suas ideias. Também apontou que, ao não concordar com a linha de enfrentamento da pandemia do ministério, ela "precisou cancelar as contas nas redes sociais, por conta das ameaças".