Por Laura Gottesdiener e Ricardo Arduengo
LES CAYES, Haiti (Reuters) - Médicos lutavam para salvar a vida de crianças e pessoas feridas em tendas improvisadas fora de hospitais lotados no Haiti, nesta segunda-feira, enquanto uma tempestade que se aproxima ameaça causar ainda mais devastação depois que um grande terremoto matou pelo menos 1.297 pessoas no Haiti.
O tremor de magnitude 7,2 de sábado destruiu milhares de casas e edifícios em uma nação caribenha que ainda se recupera de outro grande sismo de 11 anos atrás e está abalada com o assassinato de seu presidente, Jovenel Moise, no mês passado.
As áreas dentro e ao redor da cidade de Les Cayes --cerca de 150 km a oeste da capital do país caribenho, Porto Príncipe-- foram as mais atingidas, colocando enorme pressão sobre os hospitais locais, alguns dos quais seriamente danificados pelos terremoto.
Na rua principal da cidade de 100 mil habitantes há uma fila de prédios desmoronados, e a aproximação de uma tempestade ameaça causar ainda mais danos. Dezenas de homens removiam os escombros de um hotel que desabou, onde o proprietário morreu no terremoto, segundo moradores.
O hospital geral da cidade está sobrecarregado, com médicos e enfermeiros atendendo pacientes em barracas montadas no estacionamento lotado porque não havia mais vagas disponíveis lá dentro.
Dezenas de pacientes estavam deitados no chão ou em quartos lotados com parentes ao lado.
Bebês estavam sendo transportados para fora da unidade de terapia intensiva neonatal do hospital devido a preocupações de que o prédio não era mais seguro após o terremoto, de acordo com uma testemunha da Reuters.
Lucette Gedeon, pediatra, tem se voluntariado na enfermaria neonatal improvisada desde sábado e disse que o hospital enfrentava escassez de antibióticos e anestésicos.
"Houve bebês que precisaram ter membros amputados depois de ficarem presos sob os escombros", disse Gedeon.
Do lado de fora da clínica neonatal, Marceleline Charles disse que seu bebê de um mês foi atingido por um tijolo quando sua casa desabou. Os destroços também deixaram uma ferida profunda na cabeça de sua filha de sete anos.
"Não sei se ela vai sobreviver", disse Charles.
O primeiro-ministro Ariel Henry disse que não há tempo a perder.
"A partir desta segunda-feira, vamos agir mais rápido. O fornecimento de ajuda será acelerado", escreveu ele no Twitter. "Vamos multiplicar dez vezes os esforços para alcançar o maior número possível de vítimas com ajuda."
O aeroporto de Porto Príncipe nesta segunda-feira estava repleto de médicos e trabalhadores humanitários, com voos fretados domésticos e privados repletos de equipes humanitárias e suprimentos rumo ao sul.
A Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que um "corredor humanitário" seja estabelecido para que o auxilio possa atravessar territórios ocupados por gangues.
Risco de inundação
Os trabalhadores humanitários correm para se antecipar à chegada da depressão tropical Grace, que na manhã desta segunda-feira estava se movendo para oeste-noroeste da costa sul de Hispaniola, ilha que o Haiti divide com a vizinha República Dominicana.
O Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC) prevê que Grace passará pelas áreas diretamente atingidas pelo terremoto e pode inundar algumas áreas até terça-feira, com risco de enchentes e deslizamentos de terra.
Muitos haitianos que perderam suas casas têm dormido ao ar livre, muitos traumatizados pelas memórias de um terremoto de magnitude 7 de 11 anos atrás que atingiu bem mais perto de Porto Príncipe, matando mais de 200 mil pessoas.
Milhares de pessoas dormindo nas ruas estariam expostas às chuvas em meio a um risco crescente de doenças transmitidas pela água, como a cólera, de acordo com Jerry Chandler, chefe da Agência de Proteção Civil do Haiti.
"Temos um problema sério", disse Chandler no domingo.
Ele disse que barcos e helicópteros estão sendo usados para levar ajuda, mas o governo está trabalhando para estabelecer um acesso rodoviário seguro. Os suprimentos iniciais entraram por terra.
Em Jeremie, cidade do noroeste também seriamente atingida, médicos tratavam pacientes feridos em macas debaixo de árvores e em colchões no meio-fio.
Igrejas, hotéis, hospitais e escolas foram gravemente danificados ou destruídos pelo terremoto. Cerca de 13.694 casas foram destruídas, segundo a Agência de Proteção Civil, que deu a entender que o estrago pode piorar.
(Reportagem adicional de Kate Chappell em Kingston, Sarah Marsh em Havana e Philip Pullella, Olive Griffin)