BRASÍLIA (Reuters) -A médica Nise Yamaguchi negou nesta terça-feira a existência de um gabinete paralelo de aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro para ações de enfrentamento à pandemia, e disse à CPI da Covid que conversa principalmente com a área técnica do Ministério da Saúde sobre o uso da cloroquina, ainda que não haja eficácia comprovada do medicamento contra a doença.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a médica reiterou que não conhece ou integrou qualquer grupo de assessoramento paralelo a Bolsonaro, e ponderou que se reuniu pouco com o presidente da República.
"Eu desconheço um gabinete paralelo e muito menos que eu o integre", disse Yamaguchi ao relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL). "Sou colaboradora eventual de qualquer governo que precisar de mim."
Questionada, a médica disse que não poderia indicar outros participantes do gabinete, já que não reconhece sua existência. Ela negou ainda que tenha conversado com o presidente sobre vacinas ou sobre imunidade de rebanho.
A médica, no entanto, reconheceu ter frequentes contatos telefônicos e por mensagem com Bolsonaro, que diversas vezes a citou como referência na questão do uso da cloroquina.
Yamaguchi, declarada defensora do medicamento e do chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19 com remédios que não tiveram eficácia comprovada contra a doença, seria uma das integrantes do chamado "gabinete paralelo" que estaria aconselhando Bolsonaro nas ações de combate à Covid, que é investigado pela CPI.
CONSELHO CIENTÍFICO
Ao ser questionada, a médica admitiu ter conhecido o empresário Carlos Wizard em uma reunião no ano passado. Simpático a Bolsonaro, Wizard é suspeito de também integrar o que seria o gabinete paralelo para tomada de decisões sobre a pandemia à revelia do Ministério da Saúde.
"Conheci durante uma reunião sobre um conselho científico independente que ocorreu mais ou menos em agosto do ano passado", disse ela na CPI.
Nise contou que Wizard é uma pessoa que trabalhou com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na época que os dois atuavam em Roraima. Disse que os dois fizeram ações sociais.
A médica negou ter trabalhado com Wizard para o delineamento de estratégias nacionais de condução da pandemia, mas disse que houve discussões sobre tratamentos precoces.
"A gente participou dessa reunião com relação à discussão dos tratamentos precoces. Mas ele era uma pessoa muito ocupada. Então, nós participamos somente duas vezes de reuniões presenciais", afirmou.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello e Ricardo BritoEdição de Pedro Fonseca e Maria Pia Palermo)