Por Andrew Osborn
MOSCOU (Reuters) - Os russos começarão a participar nesta quinta-feira de uma votação de sete dias sobre reformas abrangentes que podem abrir caminho para o presidente Vladimir Putin continuar no Kremlin até 2036 se reeleito, uma manobra que críticos classificam como um golpe constitucional.
A votação ocorre apesar dos temores dos círculos opositores com a segurança das pessoas que irão às urnas em meio à pandemia de coronavírus, do receio de uma fraude eleitoral e das críticas de que Putin, de 67 anos, já está no poder há tempo demais.
O número de casos de coronavírus no país passou de 600 mil na quarta-feira, o terceiro maior do mundo, e milhares de infecções novas são relatadas todos os dias, mas as autoridades dizem que o novo vírus está recuando.
Todas as precauções de segurança necessárias serão adotadas durante o pleito, disseram as autoridades.
Se, como esperado, as mudanças constitucionais forem aprovadas, Putin poderia concorrer a mais dois mandatos de seis anos depois que o atual terminar em 2024.
O ex-agente da KGB está no poder como presidente ou primeiro-ministro desde 1999, e não descartou voltar a concorrer, mas diz que ainda não tomou uma decisão final.
Críticos acreditam que ele pretende se aferrar ao poder como o falecido líder soviético Leonid Brezhnev, que morreu no cargo. Outros acreditam que ele está mantendo suas opções em aberto para não perder força antes de 2024 e que ainda pode ceder as rédeas a um sucessor escolhido a dedo, mas por ora desconhecido.
"Como o presidente não encontrou um sucessor, indicou a si mesmo", disse Andrei Kolesnikov, pesquisador sênior do Centro Carnegie de Moscou.
Já que Putin tem apoio da mídia estatal e não vê nenhuma ameaça imediata de uma oposição dividida, a votação a respeito de uma vasta gama de mudanças constitucionais deve favorecê-lo – apesar do desemprego em alta, de uma economia abalada pelo coronavírus e da falta de perspectiva de recuperação econômica no futuro próximo.
O Banco Central prevê uma queda de 4%-6% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, e o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta um declínio de 6,6%.
Especialistas do instituto de pesquisas estatal VTsIOM previram que entre 67% e 71% dos eleitores endossarão as mudanças constitucionais mesmo assim, e críticos do Kremlin dizem que a votação é uma encenação e que será manipulada.
(Reportagem adicional de Tom Balmforth)