Investing.com - O mercado brasileiro ignora a queda das commodities e a crise política em Brasília, foca nas boas notícias e engata o terceiro pregão consecutivo em alta nesta quinta-feira (25/5) uma semana após o pânico que estourou no mercado financeiro com a delação da JBS (SA:JBSS3).
O Ibovespa sobe quase 1% e se encaminha para testar os 64 mil pontos pela primeira vez desde a quarta-feira da semana passada, quando, após o pregão, o Brasil foi surpreendido com a gravações de conversas pouco republicanas de Michel Temer e Joesley Batista. A divulgação da delação detonou a força política do presidente e as reformas passaram de certas a uma incógnita, derrubando os mercados.
Desde a derrocada de -8,8% na quinta-feira pós-delação da JBS, o Ibovespa recuperou 3,6% em quatro pregões no positivo - incluindo esta manhã - e um dia de correção, na segunda-feira.
A Petrobras (SA:PETR4) é negociada a R$ 14,15, alta de 1,4%, em um dia movimentado no noticiário corporativo. A empresa anunciou que exercerá direito de preferência em três blocos dos oito no pré-sal que serão leiloados no segundo semestre. A Justiça suspendeu ação e liberou a venda de ativos em Sergipe.
No mercado internacional, o petróleo opera com perdas de quase 1% em movimento de realização de lucros após o rali dos últimos dias levar a commodity para o maior valor em cinco semanas. A correção ocorre após a Opep confirmar a extensão por nove meses do acordo de corte de 1,8 milhão de barris/dia na oferta global, amplamente antecipado pelo mercado.
A Vale (SA:VALE5) também ignora a movimentação das commodities e sobe quase 1% na bolsa, alcançando os R$ 26,20. O minério de ferro teve novo dia de derrocada na bolsa de futuros de Dalian com perdas de 4% hoje, um dia após recuo de 7%. O contrato para setembro fechou a 448 iuanes a tonelada. Já no porto de Qingdao, a negociação spot perdeu 0,4% e terminou o dia a US$ 60,24 a tonelada.
As siderúrgicas também operam com ganhos, lideradas pela Metalúrgica Gerdau (SA:GOAU4) comm +3%. A CSN (SA:CSNA3) e a Gerdau (SA:GGBR4) sobem 2,5%, enquanto a Usiminas (SA:USIM5) valoriza 2%.
A JBS engata novo dia de recuperação de valor com ganhos de 3% com forte volume de negociação. O papel se aproxima dos R$ 7 e acumula ganhos de 15% nos últimos três pregões, após afundar até os R$ 5,91 na segunda-feira em meio à receios com as investigações da CVM, rebaixamento de nota de crédito e receios de liquidez.
A processadora de proteína animal tem sofrido fortes perdas na bolsa com o acúmulo de operações da Polícia Federal atingindo o grupo controlador, J&F, e as incertezas das consequências futuras com a revelação dos esquemas de corrupção na delação premiada de seus executivos. Da máxima de R$ 12,53 em fevereiro, o papel chegou a perder quase 60% de seu valor.
Fibria (SA:FIBR3), Suzano (SA:SUZB5) e Klabin (SA:KLBN4) operam com ganhos entre 2% e 3% em um dia estável no dólar, após anunciarem aumento na cotação da celulose no mercado internacional. Os papéis foram alguns dos principais beneficiários com a crise política que elevou a cotação do dólar e impulsionou as receitas potenciais futuras das exportadoras. No mês, Fibria subiu 25%, Suzano, 15%, e Klabin, 7%.
Crise política não dá trégua
A tentativa do governo de mostrar normalidade e seguir com as votações no Congresso fracassaram ontem depois de um decreto de Michel Temer convocar as Forças Armadas para conter episódios de violência em protesto em Brasília, apoiado na garantia da ordem e lei.
A determinação do uso de militares deu o sinal de que Temer está acuado e resolveu usar toda a força da caneta presidencial para seguir no cargo e avançar com as votações. A medida provocou uma confusão generalizada na Câmara dos Deputados após o governo indicar que o presidente da casa teria feito pedido para uso das Forças Armadas. Maia desmentiu o ministro da Justiça, Raul Jungmann, e informou ter solicitado a Força Nacional. O decreto foi revogado nesta manhã.
No fim da noite, após uma longa e tensa sessão a base aliada conseguiu sem a presença da oposição, que abandonou o plenário fez um mutirão e aprovou seis medidas provisórias em poucos minutos.
Nos bastidores, a imprensa dá como certa a opção dos partidos em substituir Temer assim que um consenso sobre o sucessor for estabelecido. Os ex-presidentes FHC, Lula e Sarney discutem com aliados e tentam encontrar um caminho que seja aceitável pelos três partidos, PSDB, PT e PMDB. A aposta é cada vez maior que Temer não conseguirá sobreviver ao julgamento do TSE marcado para o começo de junho.
O futuro próximo de Temer poderá ficar mais complicado com a decisão da PGR de abrir novo inquérito contra o presidente, desta vez sob suspeita de tráfico de influência com base em conversa gravada do presidente com o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo desta quinta-feira. O governo avalia que Loures pode estar negociando uma delação premiada. A OAB deverá entrar com pedido de impeachment nesta quinta-feira.