Investing.com – Após muita expectativa e até uma notícia falsa no meio do caminho, a tão aguardada aprovação de Exchange Traded Funds (ETF, ou fundo negociado em bolsa) de Bitcoin à vista nos Estados Unidos é comemorada por agentes do mercado de criptomoedas, com a perspectiva de maior fluxo de investidores, sejam eles de varejo ou institucionais.
Ao abrir o leque de opções e facilitar o acesso por meio de um tipo ativo já difundido no mercado americano, o ETF, a expectativa de representantes de exchanges, gestoras e analistas é de impulso nas criptos nos próximos meses, diante de uma medida que consolida a sua aceitação e ajuda a afastar resistências ainda existentes. Com uma validação da legitimidade, o ecossistema se consolida também no ambiente com maior regulamentação, segundo fontes da gestora de ativos cripto Hashdex e das plataformas de negociação Bitget e Mercado Bitcoin, que falaram ao Investing.com Brasil.
Antes tarde do que nunca?
A expectativa era tanta que até uma notícia falsa sobre o tema foi divulgada nesta semana na plataforma de rede social X, antigo Twitter, causando volatilidade nos mercados. Representantes da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) precisaram desmentir a aprovação naquele momento – mas que no fim, ocorreu.
Ao todo, foram 11 ETFs aprovados, das gestoras Fidelity, ARK Invest, Grayscale, Bitwise, VanEck, Galaxy Invesco, Franklin Templeton, WisdomTree, Valkyrie, além de BlackRock (NYSE:BLK) e Hashdex. Um dos fundos pioneiros foi o Hashdex ETF BITCOIN (DEFI), lançado na NYSE, que adiciona opções desse tipo de ativo no cenário global, após disponibilização em outros mercados. O produto para os EUA foi desenvolvido em parceria com a gestora de fundos Tidal.
A Hashdex está presente hoje nos EUA, quatro países da Europa, e é a maior gestora de cripto da América Latina, com produtos no Brasil e Chile. No mercado brasileiro, a empresa lançou o segundo maior ETF da B3 (BVMF:B3SA3) em número de cotistas, o HASH11 (BVMF:HASH11).
Bruno Sousa, chefe para EUA e Europa da Hashdex, destaca que a indústria esperava ansiosamente a aprovação, com primeiras tentativas há mais de dez anos. “A gente, desde a fundação, trabalha no projeto de diferentes formas, o que se intensificou em 2021 quando começamos a nos preparar com o DEFI que agora foi convertido. Finalmente uma etapa concluída, ainda que atrasada, pois deveria ter acontecido há muito tempo. Os EUA ficaram para trás, mas antes tarde do que nunca”.
André Franco, head de research no Mercado Bitcoin, também menciona a demora, incluindo deadline próximo de um dos pedidos, com adiamentos anteriores do regulador indicando falta de maturidade do mercado. No entanto, a participação de grandes gestoras foi um passo importante para viabilizar uma maior pressão para essa aceitação.
Exposição de forma direta
O investidor, seja ele de varejo ou institucional, pode investir nos fundos aprovados para compor suas carteiras, da mesma forma que realiza com outros ativos, como fundos de ações e de renda fixa. Maximiliano Hinz, diretor de expansão para a América Latina na Bitget, aponta como principais benefícios da aprovação a exposição a todos os mercados regulados envolvidos, levando uma alocação mais direta. Segundo Hinz, a tendência é que a aprovação resulte em um fluxo de dinheiro que antes não ocorreria, diante das restrições regulatórias, pois o investimento ocorria de forma indireta. Assim, este é mais um passo para entrada de capital nas negociações envolvendo criptomoedas.
Para o investidor de varejo, Hinz considera mais seguro comprar criptomoedas via exchanges, com o ativo tangível, enquanto para o mercado mais regulado, o ETF entra com destaque, pondera, ao comparar a situação com a compra da commodity ouro.
Mais confiança para varejo e institucional
Todos os entrevistados mencionaram a maior legitimidade às criptomoedas que o selo de aprovação da SEC traz. Para Sousa, é como se o Bitcoin passasse para a maioridade e a medida é uma resposta às críticas de parte de analistas e investidores que acreditam que as criptomoedas poderiam deixar de existir.
“Esse discurso já era ultrapassado anos atrás”, alega, ao apontar que maiores gestores de ativos do mundo vão poder escolher montar posição nestes ETFS. “É normal preferir um ativo a outro, mas é preciso criticar de forma fundamentada ou admitir que é gosto pessoal. Entramos em uma nova etapa. Profissionais do setor precisam entender o ativo muito mais”.
A aprovação resulta em uma exposição de forma simples, segura e regulada para os ativos digitais. A falta de produtos regulados nos EUA levava a uma indefinição sobre a alocação no mundo cripto, segundo a Hashdex.
Para o investidor minoritário, que já comprava em bitcoin, não há tanta mudança, na opinião de Hinz. Por outro lado, os fundos regulados, que não podiam se expor, agora podem comprar bitcoin desta forma. “Por exemplo, empresas listadas em bolsa não poderiam ter esse tipo de exposição. Com a mudança, com o ETF, quem tem essa posição está comprando Wall Street. A exposição está mais controlada. Estão comprando agentes de confiança”, reforça.
Volume de negociações e potencial de valorização
O mercado já havia precificado a aprovação no curto prazo, avalia o especialista da Bitget. Não era uma questão de se, mas quando, em sua visão. No médio prazo, o anúncio deve trazer volume e nossos investidores, novos produtos, como em cartões de crédito, exemplifica, com possibilidade de que agentes mais tradicionais possam usar a infraestrutura.
Assim como Franco, Sousa acredita que como o mercado já possui maior educação sobre as criptomoedas e os ETFs são produtos muito difundidos nos EUA. Por isso, haverá maior flexibilidade para que diversos tipos de ativos estejam na carteira. Esses ETFs poderão contar com investimentos de assessores, fundos de hedge, family offices, entre outros. “Abre um pool de capital que estava fechado para investir de forma rápida. Isso explica muito o frenesi, o que ele pode representar”, completa Sousa, ao destacar a abertura de possibilidades para investidores pessoa física que não investiam anteriormente em exchanges.
Como o ETF é um pilar importante para estruturação de derivativos, criação de outros produtos, fundos com alta liquidez vão ampliar as possibilidades, fazendo com que o mercado cripto fique cada vez mais institucionalizado, completa Franco.
A alta no volume de negociação do ETF deve entregar uma boa valorização para o bitcoin, esperam os analistas. “A expectativa é muito positiva para daqui em diante, porque agora a gente tem um instrumento regulado de investimento em bitcoin nos EUA e é um marco muito interessante. Tudo o que foi negado até agora do BTC à vista tinha em pauta sobre a não segurança do investimento. É um aval muito importante. E para o mercado cripto inteiro, não só para o bitcoin”, aponta Franco, que afirma que os próximos dias e as próximas quatro semanas serão cruciais para essa medição. O MB espera uma alta na criptomoeda e avalia possível que ela ultrapasse US$ 50 mil, mas pondera que ainda não haveria força suficiente para atingir novo recorde de preço, em torno de US$69 mil.
Às 14h50 (de Brasília), o bitcoin subia 2,24%, para US$46.336.