O ex-presidente do Banco Central (Bacen) e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles disse que não pretende abandonar seu cargo no conselho da exchange Binance. Em uma entrevista ao Valor Econômico, Meirelles disse que seu foco está na empresa e no setor privado de criptomoedas.
Dessa forma, Meirelles afasta quaisquer especulações de que poderia assumir um cargo em um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-ministro já deu seu apoio ao atual candidato, mas descartou a possibilidade de assumir um cargo público após as eleições.
Na entrevista, Meirelles também disse que colocará seus esforços para intermediar o diálogo entre a Binance e o Bacen. Meirelles também falou sobre regulamentação de criptomoedas no Brasil, Bitcoin (BTC) e se mostrou contrário a substituição das criptomoedas por moedas digitais de bancos centrais (CBDC).
Meirelles elogia real digital, mas critica concorrência
Embora tenha declarado apoio a candidatura de Lula, Meirelles disse que não assumirá nenhum cargo num eventual governo do petista. Ao invés disso, o executivo pretende ajudar a estreitar os laços da Binance com o Bacen, que terá a gestão de Roberto Campos Neto até 2024.
Nesse sentido, Meirelles afirmou que tem intenção de se encontrar com Campos Neto e autoridades do Bacen, mas a reunião ainda não foi marcada. Enquanto isso, Meirelles segue estudando o PL 4401/2021, que regulamenta as criptomoedas no Brasil.
Além disso, o ex-ministro também falou sobre as CBDCs e o papel do Bacen na criação do real digital. De acordo com Meirelles, os criptoativos são o “futuro” das finanças e ele elogiou a atuação do Bacen na criação da moeda digital brasileira. No entanto, ele criticou a ideia de que as CBDCs seriam substitutos para as criptomoedas.
“Sou liberal. Não acredito em medidas para coibir ou controlar o mercado para benefício de um governo. Cada um vai achar seu lugar, seja o setor privado, com sua capacidade de atrair profissionais do mundo todo, seja o Estado, se conseguir ser eficiente o bastante para ter uma adoção ampla de sua criptomoeda”, disse Meirelles.
Bitcoin não é apenas investimento
Na entrevista, Meirelles também falou sobre a pesquisa mais recente da Chainalysis, que coloca o Brasil como o sétimo maior mercado do mundo para criptomoedas. Na visão do executivo, a posição de destaque do Brasil – que é líder na América Latina – traz uma responsabilidade maior no sentido de regulamentação desses ativos.
Conforme explicou o Valor, Meirelles disse que o Brasil só tem a ganhar com uma regulamentação que tenha um bom equilíbrio entre coibir fraudes e incentivar com segurança jurídica a inovação no setor. A mesma postura que têm órgãos como o Bacen e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Meirelles também defendeu que o setor de criptomoedas seja uma fonte de educação e desconstrução de mitos no Brasil. Por exemplo, a ideia de que criptomoedas servem apenas para investimentos, que Meirelles citou como um desses mitos.
“É evidente que tem esse papel (de investimento), mas o ponto principal de ativos como o bitcoin é servir de meio de pagamento”, disse.
Por fim, Meirelles falou sobre a Binance e sua relação com os reguladores brasileiros, elogiando a composição do conselho da empresa. Ele também destacou que a Binance pretende agir em conformidade com todas as leis brasileiras.
“A Binance está nesta fase de empoderar e estruturar diversas áreas para melhorar seu compliance, definindo a estrutura organizacional interna para que isso possa se traduzir em medidas práticas”, finaliza Meirelles.