A coleção de NFTs Bored Ape Yatch Club (BAYC) causou uma verdadeira revolução neste mercado que vai muito além dos seus 216.000% de valorização. Na visão de especialistas ouvidos pelo CriptoFácil, os NFTs de macacos representam uma “nova organização social”.
De fato, os BAYC criaram uma verdadeira comunidade ao seu redor. De anônimos até astros globais, os macacos dominam as redes sociais e viraram até estampas de roupas. E tudo isso com praticamente nenhum investimento de marketing da Yuga Labs, empresa criadora da coleção.
Para avaliar o impacto financeiro e cultural da coleção, o CriptoFácil ouviu Felipe Sant’Anna, fundador da Paradigma Education, e Thata Saeter, COO da Convex Research. Ambos comentaram sobre a relevância da coleção e também o que o futuro reserva para os BAYC e seus detentores.
Construção de comunidades Por mais que muitas pessoas repudiem a coleção, o fato é que os BAYC possuem muitas semelhanças com o Bitcoin (BTC). Nesse sentido, a maior delas talvez seja o senso de comunidade que ambos os investidores possuem.
Tanto os investidores de BTC quando os donos de BAYC sentem orgulho de pertencer àquela comunidade, de ser “donos” de um pedaço dela. E na visão de Thata Saeter, essa foi a principal conquista dos BAYC no primeiro ano da coleção.
“O que mais me impressiona é a capacidade de construção de valor em torno de uma comunidade. Isso representa o princípio de novas formas de organização social, a partir do conceito de comunidades. Todos esses famosos, que vemos aderindo aos Bored Apes, estão vinculando suas imagens à uma marca que não lhes paga em tese nada. Apenas estão contribuindo para construção dessa comunidade”, explica.
Felipe Sant’Anna endossa esse ponto e aponta que o apoio vai além dos NFTs em si, ou seja, já chega ao mundo “real”. Por exemplo, vários membros da comunidade chegam a tatuar seus macacos, enquanto outros abrem negócios que usam os BAYC de mascote.
O criador da Paradigma não faz comparações dos BAYC com o BTC, mas destaca o apego dos donos aos seus Apes. Na sua visão, se trata de um fenômeno cultural muito diferente do que ocorre com as criptomoedas em si.
A importância da tecnologia Sant’Anna também frisou a organização dos BAYC e da Yuga Labs, que conseguiu um enorme feito. Afinal de contas, os BAYC movimentam mais de US$ 8 bilhões desde que foram lançados, tornando-se a maior coleção de NFTs do mercado. Esse é um grande mérito de gestão, de acordo com o fundador da Paradigma.
“A estratégia sozinha não vale nada sem execução, e nisso eles têm todo o mérito. Acho que daqui a alguns anos, mesmo que a coleção em si não esteja mais tão quente, ela deixará sua marca. Ainda vamos olhar pra trás e ver como eles foram pioneiros em estabelecer certas dinâmicas que virariam lugar-comum”, disse.
Por muitas vezes, os BAYC – bem como os NFTs em geral – são desdenhados como meros “arquivos JPEG”. Outros até consideram um sinal de bolha o fato de que um exemplar da coleção possa valer até milhões de dólares.
Contudo, esta revolução vai além da simples imagem ou arte que está sendo vendida. Afinal, os NFTs são uma tecnologia que permite garantir a autenticidade de obras digitais via blockchain. E com a tendência de digitalização dos bens, os NFTs possuem uma enorme avenida de crescimento.
“Acho fundamental destacar que o valor dos BAYC não se resume a aparências dos macaquinhos. Baseados na tecnologia blockchain, essa coleção é considerada um símbolo de status, assim como uma obra de arte ou o título de clube extremamente exclusivo”, diz Saeter.
Na mesma linha, Sant’Anna frisa que os BAYC trouxeram várias inovações e exclusividades para este mercado. Por exemplo, o fato de distribuir criptomoedas para seus donos por meio de airdros, o que aconteceu com a ApeCoin (APE).
A coleção também criou a ideia de utilizar itens para aumentar seus exemplares, o que ocorreu na geração dos Mutant Apes (MAYC).
O futuro
Prever o que irá acontecer no futuro é bem mais difícil. Afinal, os BAYC registraram um enorme crescimento em pouco tempo. O mercado é muito dinâmico e não é comum que tendências surjam e desapareçam rapidamente.
“A julgar pelos planos dos criadores dos Apes, em 2 anos já termos jogos mobile, curta-metragens e histórias contadas em vários formatos sobre a marca. Não tenho certeza nenhuma. Há um ano atrás a coleção nem existia. Qualquer um que previsse que uma trupe de macacos entediados desbancaria os CryptoPunks (antigos NFTs nº1) seria tachado de louco”, diz Sant’Anna.
Para Saeter, também há riscos envolvendo a própria comunidade, como a entrada de membros que não agreguem valor. Da mesma forma, se membros relevantes venderem seus Apes, isso pode causar impacto monetário.
No entanto, a COO da Convex ainda enxerga valor na tecnologia como um todo. Para ela, os BAYC e os NFTs como um todo representam uma verdadeira mudança de comportamento na sociedade.
“Vejo os NFTs como uma importante ferramenta que até pouco tempo desconhecíamos. Hoje sabemos que eles fornecem subsídios, junto com outras ferramentas importantes e primordiais, para desenvolvimento e florescimento da Web 3.0”.