Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação ao consumidor no Brasil desacelerou com força em agosto, favorecida pelos preços de passagens aéreas e alimentos, mas manteve-se acima de 9,5 por cento em 12 meses, no momento em que crescem os riscos associados ao dólar.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,22 por cento em agosto, após avançar 0,62 por cento em julho, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, mas a desaceleração foi contida pelos efeitos da alta do dólar que limitaram a queda nos preços de alimentos.
Essa é a menor taxa mensal desde julho de 2014 (0,01 por cento) e também a mais baixa para meses de agosto desde 2010 (0,04 por cento). Mas no acumulado em 12 meses até julho, a inflação oficial do país ficou em 9,53 por cento no mês passado, contra alta de 9,56 por cento em julho.
O dado foi divulgado um dia depois de a agência de classificação de risco Standard & Poor's cortar o rating do país para "BB+" ante "BBB-".
O cenário do país é de recessão com juros altos, somados à grave crise política e agora com risco ainda mais elevado particularmente em relação ao câmbio. A moeda norte-americana acumulava desde o início do ano até a véspera alta de 42,9 por cento, e sobe cerca de 2 por cento nesta sessão.
"Com certeza o câmbio é um fator adicional de preocupação do Banco Central. Se perceber que essa dinâmica do câmbio já foi transferida para as expectativas futuras, vai agir aumentando os juros", avaliou o economista-chefe da Austin Rating Alex Agostini.
Nas contas dele, se o dólar ficar em média em 3,80 reais em setembro, isso pode gerar um impacto de até 0,27 ponto percentual no IPCA.
Analistas ouvidos pela Reuters esperavam alta de 0,23 por cento do IPCA no mês passado, acumulando em 12 meses inflação de 9,56 por cento.
ALIMENTOS E DÓLAR
O IBGE informou que o destaque entre os itens que ficaram mais baratos em agosto foi passagens aéreas, com queda de 24,90 por cento e impacto de -0,11 ponto percentual no resultado do mês, após avanço de 0,78 por cento em julho.
Também influenciou a taxa de agosto a queda de 0,01 por cento nos preços de Alimentação e Bebidas, contra alta de 0,65 por cento anteriormente. Entretanto, a economista do IBGE Eulina Nunes dos Santos destacou que o dólar impediu uma queda mais expressiva como vista no ano passado.
"Os custos estão mais elevados e os agricultores têm que repassar. A intensidade de queda foi muito pequena agora, diferentemente do que se viu nos anos anteriores nessa época do ano, justamente em função do dólar", disse ela.
Já os preços administrados, que exercem um dos principais pesos sobre a inflação neste ano, reduziram a alta a 0,32 por cento no mês passado, contra 1,17 por cento em julho, acumulando em 12 meses avanço de 15,77 por cento.
Destacou-se a queda dos preços de energia elétrica de 0,42 por cento, o que não ocorria desde março de 2014 (-0,87 por cento), num reflexo segundo o IBGE da redução do PIS/COFINS na maioria das regiões pesquisadas.
A perspectiva de economistas em pesquisa Focus do Banco Central é de que o IPCA vai encerrar o ano com alta de 9,29 por cento, com os administrados avançando 15,20 por cento.
O próprio Banco Central detectou recente aumento de riscos que têm afetado os preços dos ativos, e reforçou a mensagem sobre a necessidade de uma postura vigilante em meio ao período de ajustes na economia na ata de sua última reunião.