Por Sujata Rao e Saikat Chatterjee
(Reuters) - Animados com esperanças de estímulo infinitos dos bancos centrais e ávidos por esclarecimentos sobre o tamanho e o prazo de suas próximas medidas, os mercados financeiros parecem estar se afastando de apostas em estímulos mais agressivos com autoridades cautelosas sobre excesso de liquidez.
Os rendimentos dos títulos se recuperaram de mínimas recordes esta semana, com os investidores forçados a desmontar algumas de suas posições mais extremas depois que os bancos centrais --do Federal Reserve ao BC da Austrália-- indicaram que os mercados podem estar enganados ao precificar grandes cortes nas taxas de juros.
É claro que parte da recuperação se deve ao menor risco político em lugares como Reino Unido, Itália e Hong Kong, além de esperanças de que Estados Unidos e China sejam capazes de resolver sua disputa comercial nas negociações agendadas para o próximo mês.
Mas há sinais também de que os bancos centrais de todo o mundo desenvolvido estão chegando ao limite de sua paciência --tanto com mercados quanto com governos, que há mais de uma década contam com a política monetária dos BCs para "salvar o dia".
Este mês, investidores foram pegos no contrapé pelos bancos centrais de Suécia, Canadá e Austrália. Não era esperado que nenhum deles cortasse as taxas de juros, mas todos pareceram inesperadamente otimistas sobre o estado de suas economias.
Quanto ao Fed, as expectativas de um corte de 0,50 ponto percentual em setembro recuaram para zero, com os operadores agora precificando cerca de 55 pontos-base de cortes até o final do ano, contra 70 pontos-base no mês anterior.
Mesmo no Banco Central Europeu (BCE), sem dúvidas a instituição com mais razões para entregar estímulos, há relatos de crescente discordância sobre a necessidade de lançar outra grande rodada de compra de títulos.
Esta semana, o BCE vai cortar as taxas de juros e anunciar algum tipo de compra de bônus, mas mesmo assim o rendimento dos títulos de governos da região aumentou quase 20 pontos-base e os mercados diminuíram as apostas sobre um corte de juros maior, de 20 pontos-base, neste mês.
"Os bancos centrais estão dizendo [aos mercados] 'olhe, estamos cientes do equilíbrio de riscos, mas vocês podem estar se antecipando um pouco demais'", disse Stewart Robertson, economista sênior da Aviva Investors.
"A outra coisa é que, embora o crescimento tenha desacelerado em todo o mundo, ele não entrou em colapso. Então, possivelmente, as coisas não estão tão frágeis quanto alguns nos mercados financeiros pensam", acrescentou.
Os bancos centrais têm se esforçado para enfatizar isso, apontando para mercados de trabalho robustos e crescimento de salários, junto de vendas no varejo ainda fortes que sugerem que o gasto com consumo em quase todos os lugares está resistindo às turbulências na economia.
Boa parte dos BCs acredita que a flexibilização da política monetária pode estar chegando aos limites do que pode alcançar e pode até se tornar prejudicial. Os bancos, por exemplo, já em péssimo estado, não serão beneficiados por taxas de juros ainda mais baixas.
Há também a questão do vício dos mercados por estímulo --o economista e ex-autoridade do Tesouro dos EUA Lawrence Summers alerta para a "economia do buraco negro", em que pequenas mudanças nas taxas de juros e estratégias de estímulo mais agressivas têm impacto limitado.
"O saldo ainda é favorável a yields negativos e cortes nas taxas de juros. Mas os mercados tiveram uma correção saudável e as pessoas estão dizendo que [a flexibilização] talvez não seja mais uma aposta de mão única", disse Craig Inches, da Royal London Asset Management.