Após um ano com expansão acima da esperada, a construção civil deve continuar crescendo no ano que vem, embora em um ritmo menor, de acordo com representantes do setor.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) espera que o Produto Interno Bruto (PIB) setorial tenha altas de 4,1% em 2024 e 2,3% em 2025. Já o Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) projetam que o PIB da construção apresente altas de 4,4% em 2024 e 3,0% em 2025.
"Todos os cenários indicam desaceleração mas, ainda assim, estamos falando de crescimento. Não tem nada de contração no radar", afirmou a coordenadora de estudos da construção da FGV, Ana Maria Castelo, em apresentação recente.
A economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, disse que há uma expectativa de menor dinamismo da economia brasileira no ano que vem, marcada pela inflação superior ao teto da meta e pelo ciclo de subida de juros, o que tende a esfriar os negócios. "Vemos a alta da Selic como uma grande preocupação para 2025", afirmou, em entrevista coletiva.
A expectativa de crescimento do PIB setorial em 2025 é sustentada pelo ciclo de obras já em andamento e pelos empreendimentos já contratados e que terão as obras iniciadas nos próximos meses, tanto em infraestrutura quanto no ramo imobiliário, movimentando a cadeia produtiva.
No setor residencial, as casas e apartamentos lançadas no País totalizaram 259,8 mil unidades nos nove primeiros meses do ano, subida de 17,3% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as vendas totalizaram 292,6 mil unidades, alta de 19,7%, de acordo com a CBIC. "O setor imobiliário deverá continuar positivo", estimou Vasconcelos.
O destaque deve ser o Minha Casa Minha Vida, que tem juros regulados e abaixo dos praticados nas linhas de mercado. Isso tende a garantir a capacidade de acesso da população à compra dos imóveis. Por sua vez, os lançamentos de projetos de médio e alto padrão devem perder ritmo, uma vez que estão atrelados a financiamentos com taxas de juros ascendentes.
Por sua vez, as obras de infraestrutura serão impulsionadas por investimentos privados já contratados, oriundos principalmente de concessões. Em São Paulo, por exemplo, a Sabesp (BVMF:SBSP3) anunciou R$ 15 bilhões em investimentos na rede de saneamento. "Se esse plano tiver o vigor anunciado, podemos ter um crescimento maior no PIB", citou o presidente do Sinduscon-SP, Yorki Estefan.
O que deve esfriar em 2025 é o consumo de materiais de construção pelas famílias para fins de reformas e obras domésticas. Essa atividade depende de crédito, que está mais caro.
Até aqui, o PIB da Construção cresceu 4,1% nos três primeiros trimestres de 2024 em relação a igual período do ano anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi mais forte que o projetado pela CBIC e pelo Sinduscon-SP/FGV no fim de 2023, quando projetaram altas de 1,3% e 2,9%, respectivamente, para o ano cheio de 2024. "O desempenho da construção neste ano surpreendeu", afirmou a economista da CBIC. Vasconcelos acrescentou que o PIB nacional também cresceu mais que o esperado e que o avanço significativo do nível de emprego e renda ajudaram a manter aquecida a demanda por imóveis.
Pontos de atenção
Apesar da tendência de crescimento do setor, o presidente da CBIC, Renato Correia, afirmou que 2025 será "muito desafiador" para as construtoras devido ao cenário marcado por alta dos custos de mão de obra, materiais e do capital.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) aumentou 6,34% nos últimos 12 meses. Neste período o custo com a mão de obra cresceu 8,22% e o custo com materiais e equipamentos avançou 5,18%.
Correia também criticou o aumento dos juros. Na última semana, o Banco Central elevou a Selic para 12,25% ao ano e já indicou que tem pela frente mais duas altas de 1 ponto porcentual cada, colocando a Selic em 14,25% nos primeiros meses do ano que vem.
"A alta da Selic é uma grande preocupação para 2025. E o indicativo de subida de mais 2 pontos porcentuais pelo Banco Central é uma surpresa, é uma alta é muito rápida. Isso é muito danoso para investimento em infraestrutura e habitação", afirmou.
Outro efeito do juro alto deve ser a retração dos financiamentos, de acordo com Sandro Gamba, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). "O crédito imobiliário do ano que vem deverá ser menor que neste ano. Primeiro porque este ano foi muito positivo, mas a outra razão é o custo do funding", apontou Gamba, em debate recente.
Isso porque o financiamento bancário vem, em parte, das cadernetas de poupança, onde os recursos estão escassos. A solução dos bancos tem sido recorrer a outras fontes, como emissão de Letras de Crédito Imobiliário (LCI). No entanto, os custos desses títulos acompanham a Selic.