Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - A arrecadação do governo federal teve crescimento real de 5,67% em agosto sobre igual mês de 2018, a 119,951 bilhões de reais, novamente embalada por vendas de participações societárias por empresas --fundamentalmente estatais--, que impulsionaram as receitas recolhidas.
O movimento reflete orientação do governo Jair Bolsonaro para que as empresas públicas fiquem mais enxutas e se desfaçam de fatias em negócios considerados não prioritários.
Em julho, por exemplo, a Petrobras (SA:PETR4) reduziu sua fatia na empresa de combustíveis BR Distribuidora (SA:BRDT3), levantando 9,6 bilhões de reais, e o governo brasileiro e a BB Seguros, do Banco do Brasil (SA:BBAS3), arrecadaram cerca de 7,4 bilhões de reais com a oferta secundária fechada da resseguradora IRB Brasil (SA:IRBR3) Resseguros.
Ao fazerem essas alienações, as empresas auferem ganho de capital, que é sujeito à tributação. O pagamento deve ser feito até o fim do mês seguinte à operação-- razão pela qual essas operações de julho sensibilizam a arrecadação de agosto.
Impulsionada por esse movimento, a arrecadação de agosto veio melhor que a expectativa de 118,4 bilhões de reais, segundo pesquisa Reuters com analistas, e representou a melhor para o mês desde 2014 (124,372 bilhões de reais), segundo série corrigida pela inflação.
No acumulado de janeiro a agosto, a arrecadação teve alta real de 2,39%, a 1,015 trilhão de reais, informou a Receita Federal.
Membros da equipe econômica, incluindo o próprio ministro Paulo Guedes, já vinham dizendo que a arrecadação em agosto tinha vindo acima das projeções.
Novamente, o motivo apresentado pela Receita foi uma arrecadação considerada extraordinária com Imposto de Renda Pessoa Jurídica/Contribuição Social Sobre Lucro Líquido (CSLL), na esteira de reorganizações societárias de empresas.
Segundo a Receita, esse movimento rendeu 5,2 bilhões de reais aos cofres públicos em agosto, após um ganho de 3,2 bilhões de reais registrado na mesma linha em julho.
No fim de junho, a Caixa Econômica Federal levantou cerca de 7,3 bilhões de reais com a venda de participação na Petrobras -- e o imposto de renda pela transação foi pago em julho, ajudando a engordar a conta de IR advinda das reorganizações societárias.
Em coletiva de imprensa, o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros, Claudemir Malaquias, afirmou que essas reorganizações societárias não são previsíveis, mas reconheceu que elas são ligadas a operações de estatais, embora outras empresas também estejam vendendo suas fatias em negócios.
"O desempenho da arrecadação está bem superior ao ritmo de retomada da economia. Agora o incremento da arrecadação veio por decorrência desses valores (com reorganizações societárias)", disse Malaquias.
Considerando apenas a receita administrada pela Receita Federal, houve aumento real de 6,02% na arrecadação em agosto sobre igual mês do ano passado. Excluindo efeitos considerados atípicos, ligados principalmente à alienação de participações societárias, o aumento teria sido de apenas 1,54%.
Sozinhos, IRPJ e CSLL mostraram um avanço real de 35,26% em agosto sobre um ano antes, acréscimo de 5,339 bilhões de reais. Ou seja, quase inteiramente decorrente da arrecadação extraordinária por reorganizações societárias.
A segunda maior contribuição para o resultado positivo da arrecadação em agosto veio com Cofins e PIS/Pasep, com alta de 3,56% na mesma base, equivalente a uma elevação de 918 milhões de reais sobre um ano antes.
Na semana passada, o governo anunciou um descontingenciamento de 12,459 bilhões de reais no Orçamento, após calcular um acréscimo nas receitas projetadas para o ano, bem como uma diminuição nas despesas.
O Ministério da Economia aumentou em 8,3 bilhões de reais a estimativa para a receita administrada pela Receita Federal em 2019, em função da elevação na projeção de vários impostos, principalmente Imposto de Renda, Cofins e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.
O governo também apontou que vislumbra novo descontingenciamento à frente, apoiado pela realização de leilões de petróleo associados à sexta rodada de partilha e à décima sexta rodada de concessão, com os quais espera arrecadar 8,3 bilhões de reais. [nE6N25401Y}
Apesar do descongelamento recente divulgado pelo governo, cerca de 21 bilhões de reais seguem bloqueados para assegurar o cumprimento da meta fiscal deste ano, de déficit primário de 139 bilhões de reais para o governo central.
(Edição de José de Castro e Isabel Versiani)