Por William Schomberg e David Milliken
LONDRES (Reuters) - O banco central britânico adotou o maior aumento da taxa de juros em 27 anos nesta quinta-feira, apesar de alertar que uma longa recessão está a caminho, conforme corre para amortecer uma inflação projetada em mais de 13%.
Em meio ao aumento nos preços da energia causado pela invasão russa da Ucrânia, o Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra votou por 8 a 1 por um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa de juros, para 1,75% - nível mais alto desde o final de 2008.
A alta de 0,5 ponto era esperada pela maioria dos economistas em uma pesquisa da Reuters, no momento em que bancos centrais em todo o mundo buscam conter o salto dos preços.
O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, disse que todas as opções estão em jogo para o próximo encontro do banco central, em setembro, e para depois.
"Fazer a inflação retornar à meta de 2% continua sendo nossa prioridade absoluta. Não há reservas em relação a isso", disse ele em entrevista à imprensa.
Silvana Tenreyro, membro do comitê, votou sozinha a favor de um aumento menor, de 0,25 ponto.
O banco central alertou que o Reino Unido enfrentará uma recessão, com uma queda de até 2,1% na produção, semelhante a um tombo registrado na década de 1990, mas muito menor do que o impacto da Covid-19 e da crise financeira global de 2008-09.
A economia começará a encolher no último trimestre de 2022 e se contrairá durante todo o ano de 2023, o que configuraria a recessão mais longa desde a crise financeira global.
Abrindo alas para a contração econômica, a inflação dos preços ao consumidor agora deve atingir um pico de 13,3% em outubro --maior nível desde 1980-- devido principalmente ao aumento nos preços de energia após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Isso deixaria as famílias enfrentando dois anos consecutivos de declínio em sua renda disponível, o maior aperto desde que esses registros começaram, em 1964.
"A decisão de hoje confirma a noção de um banco central determinado a acabar com a inflação diante de desafios contínuos do lado da oferta, incluindo um mercado de trabalho bastante apertado e a disparada das contas de energia", disse Hussain Mehdi, estrategista macro e de investimento do HSBC Asset Management.
A inflação dos preços ao consumidor britânico atingiu uma máxima em 40 anos de 9,4% em junho, já mais de quatro vezes a meta de 2% do Banco da Inglaterra.
Anteriormente, a instituição esperava que a inflação chegaria a um pico acima de 11% e projetava quase nenhum crescimento na economia britânica antes de 2025, no mínimo.
Em suas novas estimativas, a autoridade monetária previu a inflação caindo para 2% em dois anos, à medida que o impacto econômico afeta a demanda.
Bailey disse que os riscos para o cenário do Banco da Inglaterra são "excepcionalmente grandes".
O banco central britânico já elevou os juros seis vezes desde dezembro, mas o movimento desta quinta-feira foi o maior desde 1995.
"A política monetária não está num caminho estabelecido previamente", disse o Banco da Inglaterra. "A escala, o ritmo e o momento de quaisquer outras mudanças na Taxa Bancária refletirão a avaliação do comitê sobre as perspectivas econômicas e as pressões inflacionárias."