Dólar acompanha exterior e cai ante o real
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central piorou sua projeção de crescimento econômico em 2025 a 2,0%, ante patamar de 2,1% apontado em junho, e estimou uma expansão de 1,5% em 2026, conforme Relatório de Política Monetária divulgado nesta quinta-feira.
Em documento que prevê inflação se aproximando do centro da meta apenas no primeiro trimestre de 2028, a autarquia ainda estimou que o sobreaquecimento da economia brasileira está ligeiramente maior do que o indicado três meses atrás e que o resfriamento da atividade à frente pode ser mais lento.
As projeções do BC para o PIB são menos otimistas que as do Ministério da Fazenda, que previu neste mês expansão de 2,3% em 2025 e de 2,4% no ano que vem. Já o mercado, segundo a pesquisa Focus mais recente, estima que a economia crescerá 2,16% em 2025 e 1,80% em 2026.
"A ligeira redução (da projeção para o PIB de 2025) decorre dos efeitos, ainda incertos, do aumento das tarifas de importação pelos Estados Unidos da América, bem como de sinais de moderação da atividade econômica no terceiro trimestre", disse o BC.
No relatório, a autarquia afirmou que esses fatores foram parcialmente compensados por prognósticos mais favoráveis para a agropecuária e para a indústria extrativa.
Para 2026, o BC apontou que a projeção "considera a manutenção da política monetária em campo restritivo, o baixo nível de ociosidade dos fatores de produção, a perspectiva de desaceleração da economia global e a ausência do impulso agropecuário observado em 2025."
A autoridade monetária ainda revisou para cima sua projeção para o hiato do produto (diferença entre a atividade efetiva e a capacidade da economia), indicando que o sobreaquecimento aumentou em relação ao apontado em junho.
Para o BC, o hiato foi positivo em 0,7% no segundo trimestre, contra 0,5% indicado em junho, diante de dados mais fortes que o esperado no mercado de trabalho. A estimativa é de um hiato positivo em 0,5% no terceiro trimestre deste ano.
O dado no campo positivo indica que a economia está rodando acima do seu potencial.
"Considera-se que valores positivos para o hiato são consistentes com a pressão inflacionária observada recentemente", afirmou a autoridade monetária.
Para o BC, o hiato passará para o campo negativo nos próximos trimestres diante do aperto na política monetária, atingindo -0,5% no primeiro trimestre de 2027. A estimativa indica um arrefecimento menos intenso da economia, já que em junho o relatório previa um hiato de -0,8% sendo alcançado já no quarto trimestre de 2026.
"Em virtude da elevada incerteza existente nas estimativas do hiato do produto, o Copom avalia projeções com diferentes estimativas e cenários para essa variável", ponderou no documento.
INFLAÇÃO
No relatório, a autarquia afirmou que apesar de algum recuo em relação ao levantamento de junho, a inflação permaneceu acima da meta contínua de 3% e as expectativas de inflação seguiram desancoradas.
Na projeção de seu cenário de referência, que considera a trajetória prevista pelo mercado no boletim Focus para a taxa Selic, a inflação fecha 2025 em 4,8% e vai a 3,6% em 2026. Depois, segundo o BC, atinge 3,4% no primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante da política monetária, e cai a 3,1% no primeiro trimestre de 2028, último período considerado.
A meta de inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
O documento estimou que a chance de a inflação estourar o teto de 4,5% da meta é de 71% neste ano, acima dos 68% previstos antes. Foram mantidas as previsões para os anos seguintes, com chance de 26% em 2026 e 17% em 2027.
Em relação à condução dos juros básicos, o BC reiterou mensagem da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) de que seguirá vigilante, avaliando se a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano por período bastante prolongado é suficiente para levar a inflação à meta.
O relatório trouxe ainda uma nota de acompanhamento sobre o descumprimento da meta de inflação. No atual regime, o BC precisa apresentar uma carta quando estoura os limites do alvo por seis meses consecutivos, o que foi feito em julho.
"O BC tem implementado medidas para mitigar os riscos inflacionários e reconduzir a inflação à meta", disse a autarquia.
O documento apontou que o Comitê de Política Monetária (Copom) conduziu um firme ciclo de aperto monetário do fim do ano passado até este ano e que o cenário exige uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado para levar a inflação à meta.
O BC projetou que a inflação mensal para setembro será de 0,62%, o que corresponderá a uma variação acumulada em 12 meses de 5,32%.
"As projeções para a inflação nos próximos trimestres indicam que os fatores determinantes do desvio da inflação devem apresentar alguma acomodação, respondendo aos efeitos da transmissão da política monetária contracionista, com desaceleração gradual da atividade econômica, repasse cambial mais favorável e reancoragem das expectativas", disse.
A autarquia enfatizou ter compromisso com a meta contínua de 3%, com decisões "pautadas para que este objetivo seja atingido ao longo do horizonte relevante de política monetária."