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Batalha contra inflação está longe de ganha e alta de serviços preocupa, diz diretor Serra

Publicado 09.02.2022, 10:55
Atualizado 09.02.2022, 12:20
© Reuters. Sede do Banco Central em Brasília
29/10/2019
REUTERS/Adriano Machado.

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) - O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, afirmou nesta quarta-feira que embora a atuação da autarquia para debelar a inflação seja bastante incisiva, "a batalha está longe de estar ganha”, demonstrando preocupação com o fato de a alta de preços estar se propagando para itens com maior inércia, como os serviços.

Em evento do banco Modalmais, Serra afirmou que o BC agora está atuando na política monetária com foco principalmente em 2023, com grau menor em 2022. Segundo ele, depois da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em março, a inflação deste ano não estará mais sob controle da autoridade monetária.

"A reação (do BC) tem sido bastante incisiva, um ciclo de ajuste forte e rápido, a batalha está longe de estar ganha, ainda estamos com inflação de dois dígitos, ainda tem bastante trabalho pela frente", disse.

No evento, o diretor afirmou que as decisões de política monetária surtem efeito na atividade econômica após seis meses, gerando reflexo na inflação depois disso. Ele explicou que, por essa razão, a autoridade monetária agora passou a focar mais na inflação do ano que vem.

"A gente tem até a reunião de março, que teria algum efeito para 2022. Depois de reunião de março, não tem mais o que o Banco Central possa fazer, 2022 não está mais no controle dele e a gente passa a olhar inteiramente com foco em 2023", disse.

Na semana passada, o BC informou que projeta uma inflação em torno de 5,4% em 2022 e de 3,2% em 2023 em seu cenário de referência, que considera a trajetória para os juros estimada pelo mercado.

Serra ressaltou, no entanto, que, considerando o balanço de riscos, o BC vê a inflação de 2023 acima da meta de 3,25%. "Por isso que a gente diz que o cenário de referência hoje não nos parece condizente com trazer a inflação para o centro da meta", disse Serra, ressaltando que "parece que a gente precisa fazer algo mais".

Ele afirmou que o país já está com juros em patamar acima do considerado neutro e o BC ainda vai colocar a Selic "ainda mais acima do que isso", mesmo que reduza a magnitude do aperto.

"Ainda que a gente queira ser mais duro, não necessariamente precisamos manter 'pace' de 150 pontos básicos na próxima reunião", disse, enfatizando que o Copom ainda tem alguns ajustes a serem feitos pela frente.

PREOCUPAÇÃO

Ao ressaltar a preocupação com o fato de a inflação estar mais espalhada, contaminando setores como serviços, Serra afirmou que o movimento "não é algo bom para o nosso objetivo de trazer a inflação para as metas e ancorar as expectativas".

"Na hora que o choque começa a contaminar a abertura de inflação que tem mais inércia, a gente começa a ficar mais preocupado e isso tem acontecido nos últimos meses", disse.

O diretor ressaltou, no entanto, que a preocupação não vai contra a ideia de redução do ritmo de aperto.

Na última semana, o BC elevou a taxa básica de juros a 10,75% ao ano, indicando redução no ritmo de aperto nas próximas reuniões, o que foi visto pelo mercado como um sinal de moderação no aperto. Nesta terça, porém, com a divulgação da ata da reunião, analistas viram tom mais agressivo.

No documento, o Copom detalhou que o ciclo de aperto monetário deve ser mais contracionista do que o usado em seu cenário de referência, o qual prevê Selic de 12% no primeiro semestre deste ano, de 11,75% ao final de 2022 e de 8% em 2023.

© Reuters. Sede do Banco Central em Brasília
29/10/2019
REUTERS/Adriano Machado.

Sem ser específico, o diretor afirmou que "por culpa nossa" o câmbio no Brasil depreciou mais do que outros países no ano passado, o que fez a inflação de preços externos ser maior.

Serra ressaltou que a inflação nos países desenvolvidos se tornou mais resiliente, indicando que as condições financeiras precisarão ser apertadas, principalmente nos Estados Unidos.

Para ele, no entanto, é preferível lidar com um enxugamento de liquidez provocado pela decisão do Banco Central americano do que o cenário do ano passado, que era muito estimulativo com juros baixos.

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