Por Gavin Jones
NÁPOLES Itália (Reuters) - O Banco Central Europeu (BCE) comprará empréstimos securitizados e outros tipos de dívidas com garantias a partir de meados deste mês em uma tentativa de impulsionar a fraca economia da zona do euro, apesar de desconfianças da Alemanha e outros países.
Após cortar os juros no mês passado para o que chamou de "limite mais baixo", o BCE deixou sua taxa de refinanciamento em 0,05 por cento nesta quinta-feira.
O presidente do BCE, Mario Draghi, disse que o banco central começará a comprar bônus cobertos, uma forma de dívida com garantia, de bancos em meados de outubro, e que comprará títulos lastreados em ativos (ABS, na sigla em inglês) --empréstimos securitizados-- em algum momento no quarto trimestre do ano.
O BCE espera que o programa, que durará ao menos dois anos, impulsione o mercado para tais créditos e sustente o empréstimo a pequenas e médias empresas que formam o pilar da economia da zona do euro.
"Conforme todas as nossas medidas avançarem pela economia, elas contribuirão com o retorno das taxas de inflação para níveis mais próximos de nossas metas", disse Draghi em coletiva de imprensa.
Se houvesse alguma dúvida sobre o que está em jogo, as autoridades do BCE se reuniram em um antigo palácio real do século 18 que foi cercado por centenas de manifestantes que gritaram palavras de ordem e marcharam atrás de um faixa grande que dizia: "Insegurança em emprego, pobreza, desemprego, especulação. Livre-nos do BCE!".
Draghi disse que a intenção é injetar dinheiro na economia ampliando o balanço patrimonial do BCE de volta ao nível no qual estava no começo de 2012, o que significa acrescentar centenas de bilhões de euros --uma tarefa difícil.
Uma pesquisa da Reuters na segunda-feira mostrou que operadores do mercado monetário esperam, em média, que o BCE compre um total de 200 bilhões de euros em ABS e bônus cobertos em um ano.
Um esquema separado para impulsionar empréstimos oferecendo a bancos até 400 bilhões de euros em empréstimos baratos de quatro anos atraiu, no mês passado, uma tomada inicial decepcionante.
As expectativas no mercado de que o BCE lançará um esquema amplo de "quantitative easing" (QE) têm crescido nos últimos meses, conforme o bloco fica à beira da deflação.
Draghi disse que o Conselho do BCE foi unânime de que adotará mais medidas caso necessário --declarações normalmente aceitas como código para QE. Mas esta ação derradeira continua difícil de ser adotada pelo BCE, dada a dura oposição interna.
O presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, já expressou dúvidas sobre o plano de compras de ABS e seu antecessor, Axel Weber, que renunciou ao cargo devido a um programa anterior de compra de títulos do BCE, era fortemente contra.
"Isso é uma transferência de risco que era justificada em uma situação extrema, mas que eu vejo no ambiente atual como sem dúvida problemática", disse Weber, hoje presidente do Conselho do banco suíço UBS, em uma conferência em Viena.
Títulos lastreados em ativos (ABS são uma opção de investimento que tem como base os empréstimos concedidos por bancos a empresas ou pessoas físicas, incluindo cartões de crédito e financiamento de veículos. Esses títulos são normalmente vendidos para outros bancos, mas têm sido cada vez mais comprados por seguradoras, fundos de pensões e, agora, até o BCE.
Bônus cobertos são instrumentos semelhantes, mas os ativos que os originam, tais como blocos de apartamentos, estão garantidos. Por isso se o banco vai à falência, os ativos ainda estão lá. Isso torna os bônus cobertos mais seguros do que o ABS, em que os empréstimos não são garantidos.
Para que o plano de ABS se aplique ao bloco, incluindo países como Grécia e Chipre, o banco central pode precisar comprar títulos de um padrão mais baixo do que normalmente exige como garantia de quem acessa suas operações de financiamento.
Essa perspectiva já provocou controvérsia na Alemanha e em outros lugares.
"Queremos ser o mais inclusivos possível, mas com prudência", disse Draghi, acrescentando que verificações serão implementadas para minimizar qualquer risco ao BCE.
(Reportagem adicional de John O'Donnell e Paul Taylor)