Por Francesco Canepa e Balazs Koranyi
FUKUOKA, Japão (Reuters) - Formuladores de política do Banco Central Europeu (BCE) estão abertos a cortar juros novamente se o crescimento econômico desacelerar no resto do ano e se um euro forte prejudicar o bloco, que já sofre com o impacto de uma guerra comercial global, disseram duas fontes.
O BCE disse na quinta-feira que suas taxas de juros permanecerão "em seus níveis atuais" até meados de 2020, mas o presidente da instituição Mario Dragui acrescentou que foi iniciada uma discussão sobre um possível corte ou sobre novas compras de títulos para estimular a inflação.
A mensagem aparentemente mista falhou em convencer alguns investidores, que a viram como um compromisso muito tênue com mais estímulos. Isso levou o euro a subir para uma máxima de dois meses e meio de 1,1347 por dólar norte-americano.
Mas duas fontes familiares com as discussões do BCE sobre política monetária afirmaram que um corte de juros está de fato nos planos caso a economia do bloco ameace estagnar novamente, após uma expansão de 0,4% no primeiro trimestre do ano.
"Se a inflação e o crescimento caírem, então um corte nos juros estará garantido", disse uma das fontes, que pediu anonimato porque as deliberações do BCE são confidenciais.
Um porta-voz do BCE recusou-se a comentar.
A taxa do BCE para depósitos já está 40 pontos base abaixo de zero, e os governos mais bem avaliados do bloco, como o da Alemanha, podem tomar empréstimos a taxas negativas por até uma década.
Nesse contexto, conter uma valorização do euro, mas do que reduzir custos de empréstimo já bastante baixos, seria a principal razão para um corte adicional na taxa de depósitos, disse uma das fontes.
"Eu vou te dar cinco motivos para um corte de juros", disse a fonte, antes de repetir cinco vezes: "a taxa de câmbio".
O BCE não mira formalmente uma taxa de câmbio específica, mas Draghi destacou a apreciação do euro em uma coletiva de imprensa na quinta-feira. Ele também já destacou em outras ocasiões que a moeda é um determinante crucial das condições financeiras.
A fonte disse que um euro a cerca de 1,15 por dólar ainda seria tolerável para alguns, mas 1,20 seria um nível crítico que mereceria ser acompanhado.
A moeda europeia valorizou-se em 2% contra o dólar em apenas uma semana após o banco central norte-americano, Federal Reserve, ter sinalizado que pretende cortar suas taxas de juros se necessário.
Isso foi visto por alguns analistas como um sinal de que o banco-central dos EUA estaria cedendo à pressão do governo norte-americano para manter o dólar fraco, fortalecendo o governo em suas negociações comerciais.
Os argumentos por mais flexibilização monetária (quantitative easing - QE) por parte do BCE, no entanto, eram menos claros para alguns formuladores de política, disseram as fontes.
Uma das fontes disse mais flexibilização monetária poderia ajudar a acalmar os mercados de ações se estes fossem assombrados por uma escalada na guerra comercial, embora exista um risco de o BCE ser visto como muito voltado à proteção dos interesses dos investidores em ações.
A outra fonte disse que o principal benefício do QE foi reduzir a diferença entre os custos de empréstimos de curto e longo prazo, o que já teria acontecido, tornando o acesso ao financiamento mais fácil para empresas e famílias.